INI recebe o professor Raphael Landovitz, da UCLA
Como parte da 1ª Oficina de Atualização em Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) ao HIV, realizada pelo projeto ImPrEP, nos dias 6 e 7 de maio de 2019, no Rio de Janeiro, o Instituto de Infectologia Evandro Chagas (INI) da Fiocruz recebeu a visita do pesquisador e professor da Universidade da Califórnia (UCLA), Raphael Landovitz. O médico ministrou a palestra “Manejo clínico em prevenção do HIV e das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) – discussão de casos desafiadores”. O encontro, que contou com um auditório lotado, foi acompanhado por participantes do evento e membros do ImPrEP.
A parte final da atividade foi aberta a perguntas. Muitos dos participantes queriam informações sobre a PrEP injetável.
Aproveitamos a ocasião para bater um papo com o especialista. Confira o que ele nos disse:
ImPrEP – Como você analisa as iniciativas de profilaxia pré-exposição ao HIV no Brasil e na América Latina?
Dr. Raphael – O que realmente impressiona na iniciativa brasileira é o objetivo de disponibilizar a PrEP aos que estão sob alto risco de contrair o HIV, sem custo, junto com todos os serviços de testes, como os laboratoriais e os ligados a infecções sexualmente transmissíveis. Nos Estados Unidos, esse é o maior desafio: não é apenas educar as pessoas sobre a PrEP, mas pagar pelas medicações e serviços. O sistema de saúde de lá é muito fragmentado . Então, tê-lo unificado sob um sistema de saúde pública é uma vantagem enorme e, à medida em que isso for ampliado, veremos quedas drásticas nas taxas de novas infecções pelo HIV no Brasil.
ImPrEP – Quais os principais desafios globais em termos de PrEP?
Dr. Raphael – O maior desafio é encontrar as pessoas vulneráveis à infecção pelo HIV e fazer com que elas queiram tomar e permanecer tomando PrEP. São jovens, travestis e mulheres trans e minorias raciais e étnicas os grupos que apresentam maiores dificuldades em se adaptar bem à rotina de tomar um comprimido todos os dias. Esse é o maior desafio. Porque, para se beneficiar da PrEP, é preciso ser capaz de tomá-la regularmente.
ImPrEP – Qual a importância da PrEP no cenário da prevenção?
Dr. Raphael – Para mim, é a maior inovação que o campo da prevenção ao HIV já viu. Acho que faz parte de um menu realmente importante de opções para as pessoas poderem usar e se manter livres da infecção pelo HIV. No entanto, a melhor coisa sobre a PrEP é que a pessoa HIV negativa tem controle sobre a situação. Porque quando você confia em alguém para usar preservativo, você está tentando fazer com que outra pessoa mude o seu comportamento. Mas a PrEP é algo que você controla para se manter saudável. Então isso é incrivelmente poderoso.
ImPrEP – Qual é o principal fator que inibe uma maior disseminação para o HIV?
Dr. Raphael – O que eu diria sobre isso é que a PrEP, se tomada como prescrito, é extremamente poderosa na prevenção do HIV. Se tomada como prescrito, tem eficácia de mais de 90% de proteção. E, assim, quando você junta isso com pacientes infectados pelo HIV, que tomam seus remédios, se mantém com a carga viral indetectáavel e dessa forma não transmitindo o HIV , há uma combinação muito poderosa de prevenção. Você está protegendo as pessoas que são negativas do risco de contrair o HIV e essa combinação tem o poder de realmente acabar com a epidemia se pudermos ampliar essas intervenções de forma efetiva.
ImPrEP – Qual o status atual da PrEP injetável no mundo? Algum país ou instituição está se destacando?
Dr. Raphael – Estamos nos estágios finais dos testes para mostrar que a PrEP injetável funciona. Estamos buscando 4.500 pessoas para participarem do estudo realizado em 70 países. Atualmente, já temos 3.800 pessoas no estudo, então ainda precisamos de mais 700. Esperamos ter resultados até 2020. Acho que todas as nossas regiões fizeram um trabalho realmente impressionante. Os Estados Unidos começaram cedo e já finalizaram a inclusão de novos participantes. A Ásia também encerrou a inclusão e a África está prestes a fazer o mesmo. Começamos mais recentemente o estudo na América do Sul e está sendo feito um trabalho incrível com a inclusão de um número muito grande de participantes sob risco extremamente alto para infecção pelo HIV. Acreditamos na América do Sul para impulsionar positivamente os resultados do estudo.