Barreiras e facilitadores do acesso de populações vulneráveis à PrEP no Brasil: estudo qualitativo ImPrEP Stakeholders
Mais um artigo ImPrEP acaba de ser publicado. Trata-se de “ImPrEP Stakeholders – Pesquisa Qualitativa para a Avaliação da Percepção e Atitudes de Parceiros-Chave (Stakeholders) na Implementação da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) ao HIV”, apresentado na edição de 20 de janeiro de 2022 da revista on-line Cadernos de Saúde Pública, editada pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz. A análise foi coordenada por Maria Cristina Pimenta, com a equipe do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/Fiocruz, e outros pesquisadores*.
O estudo buscou identificar os contextos sociais e estruturais dos serviços de PrEP no Brasil, as subjetividades dos atores envolvidos e as diferentes percepções que podem impactar a efetivação dessa estratégia em diferentes níveis do Sistema Único de Saúde, pela efetivação da política de prevenção e controle das infecções sexualmente transmissíveis (IST) e do HIV. O trabalho foi realizado em seis capitais brasileiras, localizadas nas cinco regiões do país: Brasília, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Também foram incluídos alguns municípios da Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro.
As entrevistas, realizadas entre novembro de 2018 e maio de 2019, abordaram os seguintes temas: percepções sobre a política nacional de prevenção ao HIV, implementação da PrEP no Brasil, perfil dos serviços de saúde para a profilaxia, perfil dos profissionais de saúde para PrEP, papel dos profissionais de saúde, população-alvo: acesso e adesão à profilaxia e implementação da PrEP. Ao todo, foram entrevistados 71 atores-chave.
Os resultados demonstram que a profilaxia é vista como positiva pelos gestores e profissionais de saúde e como estratégia que possibilita a gestão individual do risco ao HIV. A informação sobre PrEP e o acolhimento do usuário foram colocados como componente essencial para a implementação da prevenção combinada, ao possibilitar a reflexão sobre questões relacionadas a sexualidades, vulnerabilidades e riscos.
Outro dado relevante observado em todos os serviços que participaram do estudo foi a dificuldade de inclusão de travestis e mulheres trans no uso da profilaxia. Diversos fatores estruturais e socioculturais, como pobreza, racismo, violência, trabalho sexual e discriminação foram apontados como determinantes para a não participação dessa população nos serviços de PrEP. Essa dificuldade também foi observada em relação a jovens gays/outros homens que fazem sexo com homens (HSH) das periferias, negros e pobres.
Os autores destacam, ainda, que fatores como estigma e discriminação relacionados às identidades de gênero e às sexualidades não hegemônicas, foram apontados como barreiras para a efetiva implementação da PrEP e para que ela alcance as populações mais vulneráveis. Nesse sentido, a maioria dos entrevistados compartilha a ideia de que é fundamental que todos os profissionais de saúde tenham um olhar despido de julgamentos em relação à população usuária da PrEP.
Para ler o artigo, acesse http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00290620
*Autores do artigo:
Maria Cristina Pimenta (1), Ximena Bermúdez (2), Alcinda Godoi (2) Ivia Maksud (3), Marcos Benedetti (1), Bruno Kauss (4), Thiago Torres (1), Brenda Hoagland (1), Gerson Pereira (5), Beatriz Grinsztejn (1) e Valdiléa Veloso (1).
(1)Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
(2)Departamento de Saúde Coletiva, Universidade de Brasília, Brasil
(3) Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
(4) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil
(5) Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Brasília, Brasil
26/1/2022