Altas taxas de uso de drogas antes ou depois do sexo (chemsex) entre minorias sexuais e de gênero no Brasil
O mais novo artigo do ImPrEP tem como título “Altas taxas de uso de drogas antes ou depois do sexo (chemsex) entre minorias sexuais e de gênero no Brasil”, tendo sido publicado na edição de 2 de fevereiro de 2022 do International Journal of Environmental Research and Public Health. A análise foi conduzida por Emilia Jalil, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/Fiocruz, e outros pesquisadores*.
O estudo indica que travestis e mulheres trans são desproporcionalmente mais vulneráveis ao HIV e que o uso intencional de drogas ilícitas antes ou durante o sexo pode aumentar ainda mais essa vulnerabilidade. Como não havia dados concretos disponíveis sobre chemsex entre travestis e mulheres trans latino-americanas, o objetivo do trabalho foi estimar a sua prevalência junto a gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis, mulheres trans e pessoas não binárias vivendo no Brasil.
A análise foi realizada entre outubro e dezembro de 2020, a partir de pesquisa promovida em redes sociais, aplicativos de namoro e em cinco serviços que ofertam a profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV, nas cinco regiões administrativas do país. Foi incluído um total de 3.924 participantes de minorias sexuais e de gênero, com a seguinte composição: 7,2% travestis/mulheres trans, 90,5% HSH e 2,3% pessoas não binárias.
O chemsex foi avaliado por meio da pergunta: “Nos últimos seis meses, você usou alguma droga ilícita antes ou durante o sexo?” A prevalência foi de 28,8%. Desses, 40% eram travestis/mulheres trans, 33% não binários e 27% HSH. Travestis e mulheres trans tiveram chance 2,43 vezes maior de se engajar em chemsex em comparação com os participantes HSH, independentemente da utilização de PrEP.
As chances aumentadas da utilização intencional de drogas ilícitas antes ou durante o sexo ocorreram entre pessoas brancas, residentes nas regiões Sul e Sudeste, usuários da profilaxia pré-exposição, participantes que faziam consumo excessivo de álcool, aqueles que praticavam sexo anal sem preservativo e os que se percebiam em alto risco de infecção por HIV.
Fazendo um recorte para os usuários de PrEP, a maior prevalência de chemsex se deu em pessoas das regiões Sul e Sudeste, que consumiam álcool de forma abusiva e que autorrelataram infecção sexualmente transmissível (IST). Entre os participantes que não tomavam a profilaxia, os principais grupos que disseram fazer uso intencional de drogas ilícitas antes ou durante o sexo foram: os mais jovens, os que consumiam álcool em excesso, os que praticavam sexo anal sem preservativo, os que autorrelataram a presença de IST e os que tinham autopercepção de alto risco de infecção pelo HIV.
O estudo concluiu que, apesar de ser uma prática comum entre minorias sexuais e de gênero, as chances de se engajar em chemsex foram maiores entre travestis e mulheres trans. Além disso, os pesquisadores afirmam que tal prática deve impactar na vulnerabilidade ao HIV entre as populações prioritárias do projeto, devendo ser considerada nas ações de prevenção ao vírus.
Para ler o artigo, acesse: https://www.mdpi.com/1660-4601/19/3/1704/html
*Autores do estudo:
Emilia Jalil (1), Thiago Torres (1), Claudia Pereira (2), Alessandro Farias (3), José Brito (4), Marcus Lacerda (5), Daila Silva (6), Talita Andrade (3), Leonor de Lannoy (4), Monica Valões (5), Nickols Wallys (1), Joyce Gomes (5), Thiffany Odara (3), Ludymilla Santiago (4), Sophie Nouveau (6), Laylla Monteiro (1), Marcos Benedetti (1), Cristina Pimenta (7), Brenda Hoagland (1), Beatriz Grinsztejn (1) e Valdiléa Veloso (1)
(1) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
(2) Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fiocruz, RJ, Brasil
(3) Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa, Salvador, Brasil
(4) Hospital Dia Asa Sul, Brasília, Brasil
(5) Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, Manaus, Brasil
(6) Centro de Testagem e Aconselhamento Santa Marta, Porto Alegre, Brasil
(7) Ministério da Saúde do Brasil, Brasília, Brasil
21/2/2022