PrEP: temas gerais

Importância da contabilização dos custos de antirretrovirais economizados a longo prazo ao estimar a relação custo-eficácia da PrEP: um estudo de modelagem do projeto ImPrEP

Estima-se que quase 50% das novas infecções por HIV na América Latina ocorram entre gays/outros homens que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres trans. A profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV representa uma valiosa ferramenta de prevenção para reduzir a incidência entre essas comunidades, mas a sua expansão em nível nacional requer orientação. Em particular, avaliar o impacto e a relação custo-benefício da profilaxia em condições do mundo real é fundamental para avaliar a sua expansão pelos sistemas públicos de saúde da região.

O ImPrEP foi implementado para avaliar a uso, a aceitabilidade e a viabilidade da expansão da PrEP junto a HSH e mulheres trans na América Latina por meio de um estudo de demonstração no Brasil, México e Peru. No Peru, de 2018 a 2020, o projeto incluiu 1.764 HSH e 244 mulheres trans em clínicas públicas de saúde sexual e em uma organização não-governamental de sete cidades.

Com base nas informações e dados coletados, Annick Borquez, da Universidade da Califórnia e pesquisadores de outras instituições* realizaram o estudo “Importância da contabilização dos custos de antirretrovirais economizados a longo prazo ao estimar a relação custo-eficácia da PrEP: um estudo de modelagem do projeto ImPrEP”. O trabalho foi apresentado em forma de pôster na 11ª Conferência sobre a Ciência do HIV (IAS 2021), promovida virtualmente pela International Aids Society, de 18 a 21 de julho.

Os dados do ImPrEP sobre captação, retenção e adesão à PrEP basearam o modelo adotado para a análise que envolveu a relação entre a transmissão do HIV e o impacto da profilaxia entre 4 grupos: gays que se identificam como HSH, bissexuais/heterossexuais que se identificam como HSH, homens trabalhadores do sexo e mulheres trans.

Foi realizada uma análise de microcusto da incorporação da PrEP aos serviços prestados por clínicas públicas de saúde sexual, incluindo custos contínuos de pesquisa acerca da profilaxia, medicamentos, testes de laboratório e equipamentos, transporte e comunicação, excluindo-se custos de pessoal.  Estimou-se o impacto e a relação custo-benefício de ampliação em 20% da PrEP para HSH e mulheres trans de 2022 a 2030, ignorando e contabilizando a terapia antirretroviral (TARV), os custos economizados relativos ao número de infecções por HIV evitadas, bem como transformando-os em anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs) e dividindo pelo custo da oferta da profilaxia.

Ao reconhecer que evitar infecções de 2022 a 2030 reduziria custos futuros de TARV, o estudo também considerou um período de tempo mais longo, de 2022 a 2060 (sem PrEP pós 2030).

Entre os resultados, destacam-se:

– aumentar a PrEP em 20% entre HSH e mulheres trans de 2022 a 2030 pode evitar 25% de novas infecções por HIV;

– um ano de provisão de PrEP custa U$ 445, contra U$ 510 para um ano de TARV;

– mais de 1/3 dos custos foram associados a diagnósticos, seguidos por medicamentos para PrEP (27%) e preservativos (17%);

– o custo por DALY evitado foi de U$ 1.842 ao ignorar os custos economizados com a TARV e de U$ 1.341 ao contabilizá-los para o horizonte 2022-2030;

– os valores acima estão dentro do limite referendado pela OMS de 1 PIB/capita (U$ 6.941) e do limite específico para o Peru estimado por Woods (U$ 1.969 – U$ 7.747);

– a contabilização dos custos de TARV economizados de 2030 a 2060 reduz essa estimativa para U$ 587, abaixo do limite mais rigoroso estimado por Ochaleck4 (U$ 1300), com base na correlação entre as mudanças em gastos com saúde e mortalidade/morbidade no Peru.

O estudo chega a três principais conclusões: 1) alcançar 20% de cobertura de PrEP para HSH e mulheres trans no Peru significaria reduzir a incidência de HIV e teria uma boa relação custo-benefício dentro dos limites estabelecidos; 2) a contabilização dos custos de TARV economizados de 2030 a 2060 reduziria em 2/3 o custo por DALY evitado, destacando a importância de reconhecer os benefícios de longo prazo de prevenção; 3) a implementação da PrEP pelo Ministério da Saúde local se beneficiaria de infraestrutura e economias de escala, provavelmente reduzindo o custo por ano.

*Autores do artigo

Annick Borquez (1), Kelika Konda (2), Oliver Elorreaga (2), Ximena Gutierrez (2), Juan Guanira (3), Sonia Flores (2), Gino Calvo (2), Carlos Cáceres (2)

(1)Divisão de Doenças Infecciosas e Saúde Pública Global/Universidade da Califórnia-EUA, (2) Centro de Investigação Interdisciplinar em Sexualidade, Aids e Sociedade/Universidade Peruana Cayetano Heredia-Peru, (3) INMENSA-Peru.