PrEP, HSH e trans

Altas taxas de uso de drogas antes ou durante o sexo (chemsex) entre minorias sexuais e de gênero no Brasil

As travestis e mulheres trans são desproporcionalmente vulneráveis ao HIV em todo o mundo. O uso de drogas sexualizadas (chemsex), ou seja, o uso intencional de drogas ilícitas antes/durante o sexo, pode aumentar sua vulnerabilidade à infecção pelo HIV. Em razão de não haver dados sobre chemsex entre travestis e mulheres trans latino-americanas, o objetivo do estudo “Altas taxas de uso de drogas antes ou durante o sexo (chemsex) entre minorias sexuais e de gênero no Brasil” foi estimar a prevalência desse uso junto a gays, bissexuais, outros homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis, mulheres trans e pessoas não binárias, e seus preditores entre essas populações.

Conduzida pela equipe do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/Fiocruz e pesquisadores de outras instituições*, e apresentada em forma de pôster na 11ª Conferência sobre a Ciência do HIV (IAS 2021),  promovida virtualmente pela International Aids Society, de 18 a 21 de julho, a análise foi realizada de outubro a dezembro de 2020, a partir de pesquisa on-line promovida em anúncios em aplicativos de namoro e em cinco serviços que ofertam a profilaxia pré-exposição (PrEP) localizadas nas cincos regiões administrativas do Brasil. Foi incluído um total de 3.924 pessoas de minorias sexuais e de gênero, com a seguinte composição: 7,1% travestis/mulheres trans, 90,5% HSH e 2,3% pessoas não binárias.

O uso de drogas sexualizadas foi avaliada por meio da pergunta: “Nos últimos seis meses, você usou alguma droga ilícita antes/durante o sexo?”. A prevalência em termos de uso foi de 28,8%: 40,7% em travestis/mulheres trans, 33% em não binários e 27,8% em HSH. Travestis e mulheres trans tiveram chance 2,43 vezes maior de usar drogas sexualizadas em comparação com HSH, independentemente se usavam PrEP ou não.

Chances aumentadas do uso de drogas sexualizadas ocorreram entre:

– pessoas brancas;

– provenientes das regiões sul e sudeste do país;

– usuários de PrEP;

– participantes com consumo excessivo de álcool (em binge);

– aqueles que faziam sexo anal sem preservativo;

– os que percebiam alto risco de infecção pelo HIV.

Entre os usuários de PrEP, pessoas das regiões sul e sudeste e aquelas que consumiam bebidas alcoólicas em binge tiveram maiores prevalências de drogas sexualizadas, além daquelas com autorrelato de infecções sexualmente transmissíveis (IST). Entre os não usuários da PrEP, foram associados ao uso de drogas sexualizadas: idade mais jovem, consumo de bebida alcoólica em binge, sexo anal sem preservativo, autorrelato de IST e percepção de alto risco de infecção pelo HIV.

O estudo conclui que, apesar de ser uma prática comum entre as minorias sexuais e de gênero, as chances do uso de drogas sexualizadas foram maiores entre  travestis e mulheres trans. Além disso, aponta que tal uso pode impactar a vulnerabilidade ao HIV entre as populações prioritárias, incluindo  travestis e mulheres trans, devendo ser considerado nas ações de prevenção ao vírus.

*Autores do trabalho:

Emilia Jalil (1), Thiago Torres (1), Claudia Pereira (2), Alessandro Farias (3), Jose D. U. Brito (4), Marcus Lacerda (5), Daila A. R. da Silva (6), Talita Andrade (3), Leonor de Lannoy (4), Monica Valões (5), Nickols Wallys (1), Joyce Gomes (5), Thiffany Odara (3), Ludymilla Santiago (4), Sophie Nouveau (6), Laylla Monteiro (1), Marcos Benedetti (1), Cristina Pimenta (7), Brenda Hoagland (1), Beatriz Grinsztejn (1) e Valdiléa Veloso (1)

(1)Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/Fiocruz-RJ/Brasil, (2)  EscolaNacional de Saúde Pública/Fiocruz-RJ/Brasil, (3) Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa-Salvador/Brasil (4) Hospital Dia Asa Sul-Brasília/Brasil, (5) Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado-Manaus/Brasil, (6) Centro de Testagem e AconselhamentoSanta Marta/Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre/Brasil, (7)

Ministério da Saúde do Brasil