O enfrentamento ao HIV em meio aos desafios impostos pelo retrocesso global
Um artigo de opinião, publicado na edição de março do Journal of the Internacional AIDS Society, lança um alerta sobre o impacto dos crescentes movimentos antidireitos voltados contra minorias sexuais e de gênero, com destaque para como eles afetam a luta contra o HIV. Assinado por Allan Maleche e outros colaboradores do Quênia, o texto argumenta que os progressos conquistados nas últimas décadas se encontram ameaçados pela onda global de retrocesso que mina políticas de saúde e direitos humanos.
Ameaçando tanto a ampliação de direitos, como estimulando a extinção daqueles já conquistados, o texto denuncia o papel de líderes políticos e religiosos conservadores na difusão de discursos de ódio e no bloqueio de políticas inclusivas. Dentre os casos concretos recentes, é mencionado o caso de Uganda: em 2023, o país teve leis anti-LGBTQIA+ sancionadas pelo seu presidente, com consequências desastrosas para essa comunidade, que se viu criminalizada e impedida de acessar serviços básicos de saúde e prevenção ao HIV.
Segundo os autores, leis como essa não apenas legitimam a discriminação, como alimentam o estigma, a violência e a exclusão de populações vulneráveis. Ao restringir o reconhecimento político dessas comunidades, tais medidas estimulam a subnotificação de casos de HIV e comprometem o acesso à prevenção e ao tratamento. Ao relembrar o compromisso global assumido pela agenda da ONU, que prevê acabar com a epidemia de aids até 2030 por meio do acesso universal à saúde, da redução das desigualdades e da promoção dos direitos humanos, o artigo aponta como tais retrocessos legais tornam essa meta cada vez mais distante.
Como resposta a esse cenário, os articulistas defendem uma atuação multissetorial, que envolva a revogação de leis discriminatórias contra as minorias sexuais e de gênero nos países que as adotaram, o fortalecimento de lideranças políticas comprometidas com os direitos humanos e respostas efetivas contra o HIV, e a ampliação do financiamento de programas de saúde voltados para populações vulneráveis. Sem essa atuação conjunta, o objetivo de acabar com a aids até 2023 permanecerá inatingível.
Link para o artigo: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/jia2.26429