Trajetórias de uso de PrEP e incidência de HIV entre usuários da profilaxia no Brasil: resultados do estudo ImPrEP
O número de casos de HIV continua a crescer na América Latina, especialmente entre jovens gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens e mulheres transgênero. Entender o uso da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV na modalidade oral diária em longo prazo é crucial para melhorar a adesão ao medicamento e a retenção ao serviço.
Estudo conduzido por Beatriz Grinsztejn, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, e outros pesquisadores*, explorou os padrões de uso da PrEP oral diária ao longo do tempo no Brasil, identificando trajetórias distintas e fatores associados. A análise foi apresentada, em forma de pôster, na 32ª Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI), realizada de 9 a 12 de março, em São Francisco, nos Estados Unidos.
De fevereiro de 2018 a junho de 2024, 3.928 pessoas, HIV negativas e residentes no Brasil, foram inicialmente incluídas, das quais 3.810 retornaram para pelo menos uma visita de acompanhamento e permaneceram no estudo.
O tempo médio de acompanhamento dos participantes foi de 5,19 anos. Os pesquisadores identificaram três grupos distintos: G1 (54%), com alta probabilidade de ter uma adesão adequada à PrEP oral diária; G2 (38%), com um declínio gradual na adesão adequada; e G3 (8%) com um declínio rápido na adesão adequada.
Os voluntários mais jovens, aqueles que praticavam sexo transacional e os que usavam drogas estimulantes possuíam maiores chances de estarem nos grupos G2 ou G3, em comparação com o G1. No geral, 46,9% dos participantes descontinuaram a PrEP oral diária durante o período de acompanhamento.
A incidência de HIV foi mais elevada entre as pessoas que interromperam o uso do medicamento quando comparadas com as que mantiveram uma adesão adequada. A taxa de incidência do vírus foi 3,66 vezes maior no grupo G3, em comparação com o G1.
De acordo com os autores, foram identificadas três trajetórias distintas de adesão à PrEP oral diária no Brasil, com aqueles que apresentaram declínio rápido na adesão sendo mais jovens, praticantes de sexo transacional e usuários de drogas estimulantes. Eles afirmam que as modalidades de PrEP de longa duração podem ajudar a abordar os desafios enfrentados por esses subgrupos, aumentando a retenção e a eficácia geral.
*Autores:
Beatriz Grinsztejn (1), Carolina Coutinho (1), Brenda Hoagland (1), Marcelo Cunha (1), Iuri Leite (1), Ronaldo Ismério (1), Mayara Secco (1), Maria Cristina Abbade (2), Alessandro Farias (3), Jose Valdez Madruga (4), Marcos Benedetti (1), Cristina Pimenta (1), Thiago Silva Torres (1), Valdiléa Veloso (1) e Grupo de Estudos ImPrEP CAB Brasil
1 – Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
2 – Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, São Paulo, Brasil
3 – Centro Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa, Salvador, Brasil
4 – Centro de Referência em Treinamento para IST/Aids, São Paulo, Brasil.