Preferências de PrEP de longa duração entre minorias sexuais e de gênero brasileiras: principais fatores de influência
A aceitação da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV na modalidade oral diária permanece limitada na América Latina, mesmo com o aumento do número de casos de infecção pelo vírus, especialmente entre minorias sexuais e de gênero. Com a aprovação da PrEP injetável de longa duração, baseada no cabotegravir (CAB-LA), entender as preferências relacionadas à profilaxia é vital para integrar essas tecnologias em programas nacionais de PrEP.
Estudo conduzido por Thiago Torres, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, e outros pesquisadores*, descreveu as preferências de PrEP e identificou fatores relacionados à preferência pelo esquema injetável de longa duração semestral, baseada no lenacapavir, entre minorias sexuais e de gênero no Brasil. O ensaio foi apresentado, em forma de pôster, na 32ª Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI), realizada de 9 a 12 de março, em São Francisco, nos Estados Unidos.
Uma pesquisa nacional on-line foi realizada, de agosto a dezembro de 2024, com pessoas pertencentes a minorias sexuais e de gênero, maiores de 18 anos, HIV negativas ou com status desconhecido do HIV, recrutadas por meio de anúncios em aplicativos de namoro e mídias sociais.
O resultado da pesquisa foi obtido por intermédio da pergunta: “Supondo que todas as modalidades de PrEP sejam igualmente eficazes, qual seria a sua favorita?” As respostas eram PrEP oral diária, PrEP sob demanda (2+1+1), PrEP injetável a cada dois meses, PrEP injetável a cada seis meses ou não usaria PrEP.
No total, 6.200 participantes responderam ao questionário, com idade média de 39 anos. A maior parte era de homens cisgênero (91,7%), 2,8% pessoas não-binárias, 0,6% mulheres transgênero e 0,7% homens transgênero. 24,9% haviam frequentado o ensino médio, 43,6% eram pretos e pardos, 22,4% possuíam baixa renda, 64,8% disseram fazer sexo anal sem preservativo, 27,7% relataram a prática de chemsex (consumo de drogas para potencializar o ato sexual), 12% tiveram um diagnóstico de IST nos seis meses anteriores à pesquisa, 8,2% nunca haviam realizado um teste de HIV e 36,4% já tinham utilizado a PrEP.
A pontuação média para conhecimento sobre o HIV foi alta e a média de LGBTQIAPN+fobia internalizada foi baixa. Cerca de metade dos voluntários (49,5%) preferiu a PrEP injetável semestral, seguida da injetável a cada dois meses (16,6%), da oral diária (15,4%) e da sob demanda (14,7%). Apenas 3,8% disseram que não pretendiam usar a PrEP.
Fatores associados à preferência pelo esquema injetável semestral incluíram possuir um maior conhecimento sobre o HIV, uma menor LGBTQIAPN+fobia, já ter usado a PrEP anteriormente e a prática de chemsex.
De acordo com os autores, os resultados do estudo revelam uma forte preferência pelas modalidades de longa duração da PrEP entre pessoas pertencentes a minorias sexuais e de gênero no Brasil. Eles ressaltam que deve ser dada prioridade a estudos de implementação do lenacapavir, principalmente entre as populações mais vulneráveis ao HIV.
*Autores:
Thiago Torres, Mayara Secco, Carolina Coutinho, Brenda Hoagland, Emilia Jalil, Sandra Cardoso, Marcos Benedetti, Cristina Pimenta, Paula Luz, Valdiléa Veloso e Beatriz Grinsztejn, todos do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil, e Grupo de Estudos ImPrEP CAB Brasil