Fatores que influenciaram a conscientização sobre a DoxyPEP entre minorias sexuais e de gênero: uma pesquisa baseada na web no Brasil
Minorias sexuais e de gênero enfrentam uma carga desproporcional de infecções sexualmente transmissíveis (IST) em todo o mundo, particularmente na América Latina. Embora a profilaxia pós-exposição (PEP) à IST, baseada na doxiciclina (DoxyPEP), seja recomendada em alguns países, nenhuma diretriz ou estudo de implementação foi realizado no Sul Global.
Estudo conduzido por Mayara Secco, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, e outros pesquisadores do Instituto*, buscou identificar fatores associados à conscientização sobre a DoxyPEP entre minorias sexuais e de gênero no Brasil. O ensaio foi apresentado, em forma de pôster, na 32ª Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI), realizada de 9 a 12 de março, em São Francisco, nos Estados Unidos.
De agosto a setembro de 2024, foi realizada uma pesquisa transversal on-line com pessoas maiores de 18 anos e residentes no Brasil. Os participantes foram recrutados por meio de anúncios em aplicativos de namoro e mídias sociais. A conscientização sobre a DoxyPEP foi definida como já ter ouvido falar sobre o medicamento.
No total, 8.217 voluntários foram incluídos na análise, com média de idade de 40 anos. A maioria (92,2%) se identificou como homem cisgênero, 77,3% viviam em capitais, 56,1% se declararam brancos e 74,7% com ensino superior.
Embora existisse um interesse significativo em uma profilaxia para IST (85,4%), apenas 33,3% relataram conhecimento prévio sobre a DoxyPEP. Conhecer o medicamento foi positivamente associado a ter o ensino superior completo, maior consciência sobre o HIV, possuir mais parceiros sexuais, fazer sexo anal sem preservativo, praticar chemsex (consumo de drogas para potencializar o ato sexual) e relatar um diagnóstico de IST nos seis meses anteriores à pesquisa.
A conscientização sobre a DoxyPEP foi maior entre aqueles que já haviam utilizado a profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV, em comparação com os que nunca usaram o medicamento (58% contra 26,3%). Somente 6% relataram o uso anterior de DoxyPEP, com a maioria desses (60,5%) tendo recebido a substância por meio de um profissional de saúde.
Segundo os autores, a conscientização sobre a DoxyPEP entre minorias sexuais e de gênero no Brasil permanece limitada, refletindo a ausência de estudos de implementação e diretrizes oficiais. Eles destacam que fortalecer campanhas de conscientização e integrar o medicamento em programas mais amplos de saúde sexual será fundamental para garantir acesso equitativo, reduzir a incidência de IST bacterianas e abordar os determinantes sociais e subjacentes da saúde.
*Autores:
Mayara Secco, Thiago Torres, Carolina Coutinho, Brenda Hoagland, Emilia Jalil, Marcos Benedetti, Cristina Pimenta, Sandra Cardoso, Paula Luz, Valdiléa Veloso e Beatriz Grinsztejn, todos do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil