Escolhas de PrEP entre minorias sexuais e de gênero no Brasil: o estudo ImPrEP CAB Brasil
A profilaxia pré-exposição (PrEP) na modalidade oral diária é altamente eficaz na proteção do HIV, mas sua utilização e adesão permanecem abaixo do nível ideal. A PrEP injetável de longa duração, baseada no cabotegravir (CAB-LA), também demonstrou alta eficácia em ensaios clínicos, embora os dados do mundo real ainda permaneçam limitados.
Estudo conduzido por Beatriz Grinsztejn, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, e outros pesquisadores*, avaliou as escolhas iniciais de PrEP e os motivos e fatores associados a essas escolhas. A pesquisa foi apresentada, em forma de pôster, na 32ª Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI), realizada de 9 a 12 de março, em São Francisco, nos Estados Unidos.
O ImPrEP CAB Brasil é um estudo de implementação que avalia a escolha de PrEP, a viabilidade, a aceitabilidade e a eficácia do CAB-LA entre minorias sexuais e de gênero, de 18 a 30 anos, em serviços de PrEP localizados em seis cidades brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Manaus, Florianópolis e Campinas). Pessoas HIV negativas puderam escolher entre as modalidades de PrEP oral diária e injetável de longa duração com cabotegravir. O processo de escolha se deu após os participantes terem recebido o aconselhamento padrão ou o aconselhamento padrão associado à ferramenta de educação em saúde mHealth.
Um total de 1.447 participantes foram incluídos do estudo, de outubro de 2023 a agosto de 2024 com 83% optando pela PrEP injetável de longa duração com cabotegravir e 17% escolhendo a modalidade oral diária. A maioria eram gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens cisgênero (91%), 42% tinham de 18 a 24 anos e 60% se declararam pretos ou pardos.
As pessoas que receberam a intervenção de mHealth apresentaram maior probabilidade de escolher a PrEP injetável com cabotegravir. Entre aquelas que optaram pelo esquema oral diário, 46% relataram ter medo de injeções, enquanto 78% dos que preferiram a injetável de longa duração informaram ter dificuldades de adesão a medicamentos diários.
A maioria dos participantes demonstrou forte confiança em sua decisão, com 82% acreditando que não precisariam trocar o método escolhido. Entre os usuários da ferramenta mHealth, 65% a consideraram útil e 85% se disseram muito satisfeitos.
A análise de regressão logística indicou que a exposição ao mHealth foi fortemente associada à escolha da PrEP injetável de longa duração com cabotegravir. Voluntários mais jovens (de 18 a 20 anos) e aqueles que apresentaram maior dificuldade para se decidir foram mais propensos a optar pela modalidade oral diária.
Os autores afirmam que abordagens personalizadas de prevenção do HIV são essenciais para capacitar pessoas a selecionarem uma modalidade de PrEP alinhada com seus valores e estilo de vida, aumentado assim a probabilidade de uma adesão perfeita e, consequentemente, de uma alta proteção conta o vírus em longo prazo.
*Autores:
Beatriz Grinsztejn (1), Carolina Coutinho (1), Brenda Hoagland (1), Alessandro Farias(2), José Valdez Madruga (3), Josué Lima (4), Maria Paula Mourão (5), Ronaldo Zonta (6), Marcos Benedetti (1), Cristina Pimenta (1), Pedro Leite (1), Gabrielle O’Malley (7), Thiago Torres(1), Valdiléa Veloso (1) e Grupo de Estudos ImPrEP CAB Brasil
1 – Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
2 – Centro Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa, Salvador, Brasil
3 – Centro de Referência e Treinamento em IST/Aids, São Paulo, Brasil
4 – Centro de Referência em IST/Aids de Campinas, Campinas, Brasil
5 – Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado, Manaus, Brasil
6 – Centro de Testagem Anônima/Policlínica Centro, Florianópolis, Brasil
7 –Escolas de Medicina e de Saúde Pública, Universidade de Washington, Seattle, EUA.