Fatores associados à discriminação contra travestis e mulheres trans no Rio de Janeiro
A discriminação contra travestis e mulheres transgênero possui impactos significativos em termos de saúde mental, acesso ao mercado de trabalho e situação socioeconômica. Apesar de a discriminação ser atribuída a fatores históricos e estruturais de uma sociedade machista e patriarcal, ainda faltam estudos com uma descrição mais detalhada sobre suas causas.
Para contribuir com a supressão dessa lacuna, um artigo publicado na edição de dezembro de 2024 do periódico Transgender Health investigou fatores associados à discriminação cntra travestis e mulheres trans no Rio de Janeiro. Com autoria de Layla Razek, da Universidade McGill, do Canadá, e outros colaboradores*, a análise utilizou dados do Transcendendo, estudo de coorte ocorrido no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, que acompanhou 559 participantes entre 2015 e 2020.
Por intermédio de questionários presenciais, foram coletadas informações sociodemográficas, de identidade e expressão de gênero, histórico de trabalho sexual e experiências de discriminação.
Os resultados ressaltaram que a discriminação enfrentada por travestis e mulheres trans não se limita a interações individuais, mas se inserem em um contexto de exclusão estrutural. Nesse contexto, a falta de apoio familiar foi um dos principais fatores associados à discriminação, especialmente por aumentar as condições de vulnerabilidades. Além disso, outros fatores associados foram viver em situação de pobreza e histórico de trabalho sexual, com 71% das participantes relatando trabalho sexual passado ou atual.
A partir desses resultados, os autores do artigo destacam a urgente necessidade de políticas públicas capazes de fazer frente à exclusão social e econômica entre travestis e mulheres trans no Brasil. Os dados reforçam a necessidade de atuações específicas que atuem diretamente sobre os fatores que propiciem a exclusão, como programas que ofereçam suporte familiar, oportunidades de trabalho formal e proteção contra a violência.
*Autores do artigo:
Layla Razek (1), Richard Henry (2), Emilia Jalil (3), Ruth Friedman (3), Monica Derrico (3), Biancka Fernandes (3), Isabele Moura (3), Valdiléa Veloso (3), Beatriz Grinsztejn (3), Brett Thombs (2) e Paula Luz (3)
(1) Departamento de Biologia, Universidade McGill, Montreal, Canadá
(2) Instituto de Pesquisa Médica Lady Davis, Hospital Geral Jewish, Montreal, Canadá
(3) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.
Link: https://www.liebertpub.com/doi/full/10.1089/trgh.2023.0002