Editorial do Clinical Infectious Diseases aponta lições sobre a mpox a partir de artigo do INI/Fiocruz
De junho de 2022 a maio de 2023, a mpox foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como emergência de saúde pública de interesse global. Após esse período, o número de casos notificados no mundo caiu de forma expressiva, salvo nas regiões em que a doença já era endêmica, como na República do Congo e outros locais da África Subsaariana. Em agosto de 2024, no entanto, a OMS reclassificou a mpox como emergência de saúde.
No mês anterior à reclassificação, o periódico Clinical Infectious Diseases publicou artigo de Mayara Secco, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, e outros autores([1]), que já apontavam sobre indícios de um possível segundo surto de mpox no Rio de Janeiro. O editorial da mesma edição chamou a atenção para a importância do artigo e a lição que pode ser extraída dele. Assinado por Erica Telford, Eric D´Ortenzio e YazdanYazdanpanah, da ANRS Emerging Infectious Diseases/Inserm, de Paris, o editorial afirma ter sido essa a primeira publicação sobre um possível novo surto de mpox fora das áreas endêmicas desde o fim da emergência de 2022 e 2023.
Dentre as lições sobre o artigo de Mayara Secco et al, o editorial ressalta a importância para os sistemas de saúde de manterem vigilância contínua para detectar ressurgimentos de doenças a princípio controladas. Além disso, a partir dos dados apresentados pelo trabalho, o editorial fala sobre a necessidade de campanhas de conscientização para o grupo majoritariamente afetado, composto por gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens a partir do contato sexual. Esse grupo possui ainda um recorte racial, pelo fato de a mpox no Rio de Janeiro estar afetando mais pretos e pardos.
O editorial destaca a importância do fortalecimento de um sistema amplo e contínuo de vigilância em saúde, capaz de detectar tempestivamente casos de infecção pela mpox e mutações do vírus. Também ressalta ser urgente a criação de campanhas de vacinação, especialmente para os grupos mais vulneráveis. Esse último fator, no entanto, depende de uma maior celeridade nos processos de incorporação das vacinas aos sistemas públicos de saúde.
Todos esses elementos requerem uma priorização dentro de cada país para desenvolverem uma infraestrutura científica e de saúde para lidar com a mpox. O editorial pontua, no entanto, que é preciso coordenação e solidariedade globais, capazes de estender aos países com menos recursos os mecanismos para lidar com o vírus. Tal como concluem os autores, “as comunidades científicas e de saúde pública internacionais devem reconhecer e não deixar para trás os países que têm acesso reduzido a inovações e são mais afetados pela mpox, se envolvendo em um esforço permanente para prevenir e enfrentar surtos atuais e futuros que podem impactar esses países, bem como o cenário internacional”.
Link para o editorial:
https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciae292/7712876
- Link para o artigo:
https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciae290/7713692