Impacto do uso de substâncias na adesão à PrEP entre HSH e mulheres transgênero na América Latina: uma subanálise do estudo ImPrEP
A utilização de substâncias é maior entre gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres transgênero, em comparação com a população em geral, e pode aumentar o risco de infecção pelo HIV ou interferir na adesão à profilaxia pré-exposição (PrEP).
Análise conduzida por Hamid Vega-Ramirez, do Instituto Nacional de Psiquiatria Ramón de la Fuente Muñiz, na Cidade do México, no México, e outros pesquisadores*, teve como objetivo comparar a adesão à PrEP entre participantes do estudo ImPrEP, de acordo com o uso autorrelatado de substâncias. O estudo foi apresentado, em forma de pôster, na 25ª Conferência Internacional de AIDS (AIDS 2024), realizada, de 22 a 26 de julho, em Munique, na Alemanha.
De 2018 a 2021, o estudo incluiu 9.509 voluntários, todos HSH ou mulheres trans, do Brasil, Peru e México. Para participar da pesquisa, era necessário comparecer a pelo menos uma visita de acompanhamento após a inclusão e fornecer informações precisas sobre o uso de substâncias.
A adesão à PrEP foi definida como não ter esquecido de tomar nenhum comprimido no mês anterior à última visita. O uso de substâncias foi avaliado com base em perguntas sobre qualquer consumo nos três meses anteriores a cada visita. Modelos de regressão logística foram utilizados para associar cada substância à adesão à PrEP.
A amostra na primeira visita de acompanhamento, na quarta semana, foi de 8.714 participantes (43,2% do Brasil, 34,8% do México e 22% do Peru). Desses, 55,3% permaneceram no ensaio até a última visita. No total, 94,8% eram HSH, 72,1% se diziam negros/pardos/mestiços e 82,7% haviam frequentado o ensino médio.
Os voluntários que usaram cocaína apresentaram menores chances de aderir à PrEP em todos os países, enquanto os usuários de álcool e maconha tiveram menor adesão no Brasil e no México. A utilização das chamadas “drogas de clubes” (drogas sintéticas), no Brasil, e de poppers (conhecidas como “droga do amor”), no Peru, também foram associadas a menores chances de adesão à PrEP.
Para os autores, o uso de substâncias diminui a adesão à PrEP entre HSH e mulheres trans da América Latina. Eles afirmam que a prevenção do HIV nessas populações requer uma avaliação minuciosa da utilização de substâncias e a detecção da interferência do consumo dessas substâncias na adesão à PrEP.
Autores:
Hamid Vega-Ramirez (1), Carolina Coutinho (2), Thiago Torres (2), Iuri Leite (2), Pedro Leite (2), Ronaldo Moreira (2), Kelika Konda (3, 4), Brenda Hoagland (2), Rebeca Robles-Garcia (1), Juan Guanira (3), Sergio Bautista-Arredondo (5), Heleen Vermandere (5), Marcos Benedetti (2), Cristina Pimenta (2), Beatriz Grinsztejn (2), Carlos Cáceres (3) e ValdiléaVeloso (2)
1 – Instituto Nacional de Psiquiatria Ramón de la Fuente Muñiz, Divisão de Epidemiologia e Pesquisa Psicossocial, Cidade do México, México;
2 – Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil;
3 – Universidade Peruana Cayetano Heredia, Centro de Estudos Interdisciplinares em Sexualidade, Aids e Sociedade, Lima, Peru;
4 –Escola de Medicina Kecke, Divisão de Prevenção de Doenças, Política e Saúde Global, Los Angeles, Estados Unidos;
5 –Instituto Nacional de Saúde Pública, Cuernavaca, México.