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AIDS 2024: Insegurança alimentar impacta diretamente na adesão à TARV e à PrEP entre minorias sexuais e de gênero no Brasil

O Brasil oferece terapia antirretroviral (TARV) gratuita para pessoas que vivem com HIV, bem como profilaxia pré-exposição (PrEP) para pessoas elegíveis, por meio do seu sistema nacional de saúde. A adesão à TARV e à PrEP é essencial para se atingir os benefícios esperados da supressão viral e da prevenção do HIV.

Estudo conduzido por Paula Luz, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, no Rio de Janeiro, e outros pesquisadores*, investigou se a insegurança alimentar teve efeitos diretos na não adesão à TARV e à PrEP. O ensaio foi apresentado oralmente na 25ª Conferência Internacional de AIDS (AIDS 2024), realizada, de 22 a 26 de julho, em Munique, na Alemanha.

De maio a setembro de 2021, a análise incluiu 230 pessoas com HIV e 991 sem HIV, todas brasileiras, por intermédio de aplicativos de namoro e redes sociais. Os pesquisadores utilizaram modelagens de equações estruturais para avaliar os efeitos diretos das variáveis na não adesão à TARV e à PrEP.

A média de idade dos voluntários foi de 37 anos entre as pessoas vivendo com HIV e de 34 anos entre os HIV negativos. A maior parte (97%) era de homens cisgênero. Mais de um quinto (21%) das pessoas vivendo com o vírus informaram sofrer com insegurança alimentar, em comparação com 12% dos pesquisados HIV negativos. O autorrelato de não adesão à TARV foi de 45%, enquanto a não adesão à PrEP ficou em 7%.

Entre as pessoas com HIIV, além da insegurança alimentar, o uso de substâncias e o consumo excessivo de álcool, nos seis meses anteriores à inclusão no estudo, tiveram efeito direto na não adesão à TARV. Para os participantes HIV negativos, apenas a insegurança alimentar teve efeito direto na não adesão à PrEP.

De acordo com os autores, o Brasil tem vivenciado um agravamento de suas desigualdades sociais, que foram exacerbadas pela pandemia de Covid-19, causando o aumento da insegurança alimentar. Eles apontam que o suporte socioeconômico pode ser uma prática fundamental para as pessoas que vivem com HIV e as pessoas HIV negativas elegíveis para a PrEP.

*Autores:

Paula Luz (1), Thiago Torres (1), Victor Matos (2), Brenda Hoagland (1), Cristina Pimenta (1), Marcos Benedetti (1), Beatriz Grinsztejn (1) e Valdiléa Veloso (1).

1 – Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil;

2 – Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis, Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ministério da Saúde, Brasília, Brasil.