AIDS 2024: Depressão entre mulheres trans e HSH do Brasil, México e Peru: quem tem as maiores chances?
A depressão é um distúrbio frequente entre mulheres transgênero e gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), em comparação com populações cisgênero/heterossexuais, e pode estar associada ao status positivo de HIV, experiências sexuais específicas e indicadores de desigualdades sociais.
Análise conduzida por Hamid Vega-Ramirez, do Instituto Nacional de Psiquiatria Ramon de la Fuente Muñiz, na Cidade do México, no México, e Grupo de Estudos ImPrEP*, buscou identificar fatores associados à depressão entre essas duas populações do Brasil, Peru e México, tendo sido apresentada, em forma de pôster, na 25ª Conferência Internacional de AIDS (AIDS 2024), ocorrida de 22 a 26 de julho, em Munique, na Alemanha.
Realizada em 2021, a pesquisa incluiu 18.397 participantes (96% HSH e 4% mulheres trans) maiores de 18 anos. Foram coletados dados sociodemográficos, comportamentais e de uso de substâncias químicas. O bem-estar da saúde mental foi medido por meio do módulo de saúde mental do Short Form Health Survey. Os pesquisadores definiram depressão como uma pontuação igual ou inferior a três.
No total, 60,7% dos voluntários viviam no Brasil, 28,9% no México e 10,4% no Peru. A média de idade era de 33,5 anos. Pouco mais de 32% haviam cursado o ensino médio e 15,3% disseram viver com HIV. Mais da metade (60,8%) relatou possuir baixa ou nenhuma renda individual.
Durante o período de acompanhamento, 23,1% foram diagnosticados com depressão (25,4% dos brasileiros, 22,8% dos peruanos e 18,4% dos mexicanos). A pontuação média de bem-estar da saúde mental foi de 20,3 pontos (20,8 no México, 20,1 no Brasil e 19,9 no Peru).
Participantes brasileiros, mais jovens, vivendo com HIV, sem renda ou com baixa renda individual e sem parceiros fixos foram associados a maiores chances de depressão. Aqueles com pontuações mais altas de bem-estar da saúde mental tiveram menores possibilidades de diagnóstico de depressão.
De acordo com os autores, a frequência de depressão entre mulheres trans e HSH na América Latina supera a da população em geral e está associada a indicadores de maior vulnerabilidade social. Ressaltam que a integração de serviços de saúde mental deve ser considerada para fortalecer a prevenção do HIV e a cascata de cuidados para minorias sexuais e de gênero na região.
*Autores:
Hamid Vega-Ramirez (1), Thiago Torres (2), Kelika Konda (3, 4), Centli Diaz-Barriga (5), Dulce Diaz-Sosa (6), Rebeca Robles-Garcia (1), Oliver Elorreaga (3), Brenda Hoagland (2), Juan Vicente Guanira (3), Carolina Coutinho (2), Marcos Benedetti (2), Cristina Pimenta (2), Beatriz Grinsztejn (2), Carlos Cáceres (3) e Valdiléa Veloso (2), do Grupo de Estudos ImPrEP.
1 – Instituto Nacional de Psiquiatria Ramón de la Fuente Muñiz, Divisão de Epidemiologia e Pesquisa Psicossocial, Cidade do México, México
2 – Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
3 – Universidade Peruana Cayetano Heredia, Centro de Estudos Interdisciplinares em Sexualidade, Aids e Sociedade, Lima, Peru
4 – Escola de Medicina USC Keck, Divisão de Prevenção de Doenças, Política e Saúde Global, Los Angeles, Estados Unidos
5 – Universidade Nacional Autônoma do México, Faculdade de Psicologia, Cidade do México, México
6 – Universidade Nacional Autônoma do México, Faculdade de Estudos Superiores Iztacala, Tlalnepantla, México.