Conhecimento sobre HIV e estratégias de prevenção entre minorias sexuais e de gênero no Brasil
Apesar das evidências científicas sobre a efetividade dos esquemas de tratamento e prevenção contra o HIV, a confiança em relação a seu uso ainda não é um consenso. Tanto a profilaxia pré-exposição (PrEP) quanto a profilaxia pós-exposição (PEP), assim como os tratamentos com antirretrovirais, quando administrados adequadamente, reduzem a quase zero as chances de infecção ou contágio do HIV. Diferentes estratégias e slogans, como Tratamento para Todas as Pessoas como Prevenção e Indetectável = Intransmissível (I = I) precisam ser melhor compreendidos para ajudar a diminuir estigmas em relação ao vírus e aumentar a prevenção de novas infecções.
Estudo publicado na edição de fevereiro de 2024 do Journal of the International AIDS Society, de Kayser Oliveira Silva, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca e outros autores da escola, bem como do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, ambos da Fiocruz, no Rio de Janeiro*, buscou avaliar o nível de conhecimento do HIV e suas implicações na compreensão sobre a efetividade das estratégias de prevenção disponíveis junto às minorias sexuais e de gênero vivendo no Brasil, por meio da aplicação de um questionário on-line de 12 itens para a avaliação.
De 2021 a 2022, 23.981 voluntários foram incluídos – 5.071 de pessoas vivendo com HIV, 17.257 com status negativo e 1.653 com sorologia desconhecida. Os resultados demonstraram que quase metade dos grupos de pessoas com HIV e com status negativo (48,1% e 45,5% respectivamente) possuía alto conhecimento sobre o vírus, ao passo que apenas 26,1% do grupo com sorologia desconhecida alcançou o mesmo resultado. Em relação a I = I, 80,4% demonstraram confiança no slogan, enquanto o resultado foi de 60% para pessoas com status negativo e 42,9% com sorologia desconhecida. Além disso, um maior conhecimento sobre HIV foi relacionado a maior renda e escolaridade, independentemente da sorologia em relação ao vírus.
Os resultados demonstraram que um maior conhecimento sobre o HIV e a confiança no slogan I = I estão fortemente associados, bem como que esse conhecimento varia substancialmente de acordo com o status de sorologia, além de estar relacionado à situação socioeconômica. Tais fatos reforçam a necessidade de estratégias de educação sobre tratamento e prevenção de HIV voltados aos grupos que apresentaram resultados mais baixos.
* Autores do artigo:
Kayser Oliveira Silva (1), Rayane Ferreira (1), Lara Coelho (2), Valdiléa Veloso (2), Beatriz Grinsztejn (2), Thiago Torres (2) e Paula Luz (2).
(1) Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.
(2) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.
Link para o artigo: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/jia2.26220