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Estudo francês detalha experiências de homens transgênero com a PrEP

Os homens trans constituem um grupo invisibilizado dentro da população de pessoas transgênero. Pouco se sabe sobre a sexualidade desse público e as dificuldades enfrentadas nos serviços de saúde. Os resultados de um estudo conduzido por Clark Pignedoli, da Universidade de Marselha, na França, e outros pesquisadores, em que os homens trans falam de suas demandas relacionadas à profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV, foram publicados, em 2 de maio de 2024, na revista Social Science & Medicine.

De 2019 a 2023, os investigadores selecionaram dez entrevistas qualitativas de duas pesquisas anteriores, realizadas com homens trans, HIV negativos, nascidos na França. Todas as entrevistas referiam-se especificamente a experiências com a PrEP ou à decisão de não utilizá-la.

Os participantes tinham de 21 a 36 anos, residiam majoritariamente em grandes cidades (60%) e possuíam parceiros sexuais regulares (70%). Seis voluntários tomavam a PrEP no momento das entrevistas. Todos informaram manter relações sexuais com homens, enquanto três afirmaram também sentir atração por outros gêneros.

Dos seis que usavam a profilaxia, quatro disseram que a recebiam por meio de unidades públicas de saúde sexual e dois tinham acesso ao medicamento por meio de centros comunitários. Alguns afirmaram ter iniciado a PrEP sem receita médica, ignorando as recomendações oficiais de saúde do governo francês.

Os participantes relataram ser constantemente confundidos com homens cis pelos prestadores de serviço de saúde. Isso fazia com que recebessem recomendações equivocadas, como a indicação da PrEP sob demanda (2+1+1):  “Eles presumem que sou um homem gay cisgênero, o que é problemático. Se eu não me declaro como uma pessoa trans, não recebo os cuidados adequados. Preciso da modalidade certa da profilaxia para me sentir seguro em relação ao HIV”, disse um voluntário.

Alguns relataram ser mais cômodo se apresentar como um profissional do sexo para ter acesso facilitado à profilaxia: “Não gosto de mentir para conseguir a PrEP, mas às vezes é necessário. Ninguém precisa pensar que corro riscos adicionais, além dos que já enfrento diariamente. Pessoas trans e pessoas cis devem ter os mesmos direitos nos serviços de saúde”, afirmou um participante.

Quatro dos seis voluntários que utilizavam a PrEP relataram já haver tomado a profilaxia pós-exposição (PEP) ao HIV e que se sentiram atraídos pela PrEP em virtude das dificuldades enfrentadas para negociar o uso do preservativo. “Fiz a PEP algumas vezes, mas não me sentia bem. Sabia que tinha feito algo inadequado para estar tomando aquilo. Quando ouvi pessoas falando sobre a efetividade da PrEP, não tive dúvidas que era a melhor opção para mim”, ressaltou um entrevistado.

Embora a maioria dos indivíduos pesquisados se sentisse mais seguros com a PrEP, dois participantes disseram que a profilaxia os remetia às pílulas anticoncepcionais: “Eu sinto como se a PrEP fosse algo difícil de se tomar. Não quero mais usar uma pílula diária como fazia com os anticoncepcionais. Eu realmente prefiro abrir mão do medicamento, mesmo sabendo dos perigos do sexo desprotegido”, afirmou um deles.

De acordo com os autores, o estudo capturou mudanças complexas que muitas vezes acompanham o processo de transição de gênero dos homens trans. Afirmam que esse período tende a propiciar um maior desejo sexual e um sentimento mais forte de vulnerabilidade, o que torna fundamental a presença da PrEP na vida dessas pessoas. 

Fonte: site da Social Science & Medicine, de 2 de maio de 2024.

(https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0277953624002867?via%3Dihub)