Por Rodrigo Gonçalves

Abordagens baseadas em ligações pessoais entre homens são um método promissor para envolver populações de difícil acesso na testagem, prevenção e tratamento do HIV. Esse é a principal conclusão de um estudo realizado no Quênia e apresentado na 12ª Conferência da International AIDS Society sobre Ciência do HIV (IAS 2023), realizada de 23 a 26 de julho, em Brisbane, na Austrália.

A análise foi liderada por Carol Camlin, da Universidade da Califórnia, em São Francisco, nos Estados Unidos. Durante o ano de 2022, os pesquisadores conduziram o estudo em Siaya, cidade queniana com mais de um milhão de habitantes, 79 praias e cerca de 40 mil pescadores. A prevalência do HIV no local era de 9,5%.

Um conjunto de pescadores, com ligações estreitas entre si, que trabalhavam nas praias do distrito  Lago Vitória foram divididos em dois grupos (intervenção e controle). Os pesquisadores perguntaram aos participantes com quem eles passavam a maior parte do tempo, tanto no trabalho quanto no lazer, e a quem podiam recorrer quando estavam com problemas financeiros ou de saúde. Um homem considerado como “altamente conectado” em cada grupo foi identificado como “promotor”.

No grupo de intervenção, o promotor recebeu formação sobre o vírus e distribuiu autotestes de HIV para os outros membros do seu agrupamento. Ele também recebeu vales de transporte no valor de US$ 4 a fim de incentivar seus colegas de grupo a procurarem por terapia antirretroviral (TARV) ou profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV.

No grupo de controle, o promotor recebeu informações básicas sobre o vírus e vales para retirar autotestes de HIV em unidades de saúde nas proximidades. Embora não fosse uma ação obrigatória, ele foi incentivado a oferecer esses vales aos membros de seu agrupamento.

No total, 666 homens participaram da análise. Após um período de acompanhamento de três meses, os resultados mostraram que a utilização do autoteste de HIV foi muito maior no grupo de intervenção do que no de controle (60% contra 10%). Da mesma forma, a proporção de indivíduos que buscaram por TARV ou PrEP também foi significativamente mais elevada no grupo de intervenção em comparação com o de controle (70% a 17%).

Para os autores, incentivar os homens a envolverem amigos do sexo masculino na priorização de cuidados com o HIV pode ter um impacto positivo nas normas sociais e aumentar a utilização dos serviços de saúde. O uso de redes sociais pode ser particularmente eficaz para que populações móveis tenham acesso ao tratamento e métodos de prevenção ao vírus.

Fonte: site da IAS 2023, de 24 de julho de 2023.

(https://programme.ias2023.org/Abstract/Abstract/?abstractid=5810)