Pesquisa ImPrEP aponta a PrEP injetável como método preferido da profilaxia para a maioria dos HSH no Brasil, México e Peru
A ingestão de um comprimido diário é, atualmente, a maneira mais difundida do uso da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV em todo o mundo. No entanto, outros métodos vêm sendo continuamente testados. Um desses formatos é o medicamento injetável de longa ação cabotegravir (CAB-LA), administrado por injeção intramuscular a cada dois meses. O CAB-LA teve sua eficácia comprovada em pesquisas recentes e foi recomendado como método para a PrEP pela Organização Mundial da Saúde em 2022.
Essa diversificação de métodos levanta a questão sobre o mais adequado. Tal escolha pode se fundamentar em múltiplos aspectos – desde o nível de eficácia de cada método, a viabilidade econômica e logística em cada país ou região, até preferências individuais dos usuários. Levando em consideração esse último fator, um estudo do ImPrEP buscou avaliar a preferência por três métodos de PrEP entre gays, bissexuais e outros homens cisgêneros que fazem sexo com homens (HSH) do Brasil, Peru e México, tentando destacar características individuais e socioeconômicas associadas a cada escolha.
O estudo, cujos resultados foram publicados no periódico Therapeutic Advances in Infectious Disease em fevereiro de 2023, foi conduzido por Thiago Torres, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fiocruz, do Rio de Janeiro, e outros colaboradores vinculados à Universidade Peruana Cayetano Heredia, de Lima, e o Instituto Nacional de Psiquiatria Ramon de la Fuente Muñiz, da Cidade do México*.
Os participantes da pesquisa, realizada em 2018, foram acessados por anúncios no Grindr, Hornet e Facebook, quando então eram convidados a responder a um questionário. Além da PrEP diária e da injetável, a modalidade sob demanda (2+1+1) foi outra opção oral apresentada, indicada para pessoas que fazem sexo com menos frequência.
A pergunta sobre a preferência de método foi avaliada a partir da seguinte questão: “Considerando que todas as modalidades de PrEP estivessem disponíveis, qual delas você preferiria segundo uma escala de 1 a 3 (1 = preferido, 2 = segundo preferido, 3 = terceiro preferido): PrEP oral (uso de uma pílula diária), PrEP sob demanda (uso de comprimidos antes e depois do episódio de risco para HIV) ou PrEP injetável de longa duração (uso de medicamento injetável a cada dois meses)?”
Um total de 19.457 HSH completou o questionário. A PrEP injetável foi a modalidade preferida (42%), seguido da oral diária (35%) e da sob demanda (23%). A escolha pela PrEP injetável se mostrou relacionada nos três países a já ter conhecimento sobre a profilaxia. Apenas entre HSH brasileiros houve uma associação entre escolher a opção injetável e ser elegível para a PrEP -ser elegível significa aqueles indivíduos para quem a PrEP é recomendada.
Já a escolha pela PrEP diária, segunda colocada na preferência, esteve associada nos três países a HSH mais jovens e com menor renda e escolaridade. No Brasil e no México, ainda, os não elegíveis para a PrEP e em menor vulnerabilidade para o HIV tenderam mais a escolher a sob demanda.
Os resultados indicaram a importância de programas de PrEP que levem em consideração diferentes perfis e necessidades de uso, com um foco reforçado em HSH mais jovens, com menor renda e escolaridade, grupos mais vulneráveis à infecção de HIV.
Link para o artigo: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/20499361231153548
*Autores do artigo:
Thiago Torres (1), Alessandro Nascimento (1), Lara Coelho (1), Kelika Konda (2), Hamid Vega-Ramirez (3), Oliver Elorreaga (2), Dulce Diaz-Sosa (3), Brenda Hoagland (1), Juan Guanira (2), Cristina Pimenta (4), Marcos Benedetti (1), Carlos Caceres (2), Valdiléa Veloso (1) e Beatriz Grinsztejn (1)
(1)Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
(2) Universidade Peruana Cayetano Heredia, Lima, Peru
(3) Instituto Nacional de Psiquiatria Ramon de la Fuente Muñiz, Cidade do México, México
(4) Ministério da Saúde, Brasília, Brasil.