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Debates importantes na live ImPrEP que celebrou o Dia Internacional do Orgulho LGBTI+

Em 28 de junho de 2022, o ImPrEP realizou uma live especial, transmitida pelo canal do projeto no Facebook (@imprepbrasil), em celebração ao Dia Internacional do Orgulho LGBTI+. O evento, que teve mediação de Júlio Moreira, coordenador comunitário do ImPrEP, também contou com as participações de Vagner Almeida, assessor/coordenador de projetos na Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia); Leonardo Pereira, coordenador do Grupo de Trabalho de Eventos da Rede Jovens Rio+; Kelly Vieira, presidente da Associação em Prol da Cidadania e dos Direitos Sexuais Estrela Guia e educadora de pares do ImPrEP; e Luciana Kamel, gerente de projetos comunitários HVTN – Rede de Pesquisas de Vacinas Anti-HIV.

Julio iniciou o encontro com um breve histórico do movimento LGBTI+ no Brasil ededicou a live à Alessandra Ramos, coordenadora comunitária do ImPrEP para a população trans, recentemente falecida. Vagner foi o primeiro a falar e destacou os avanços e retrocessos de pautas relacionadas à comunidade LGBTI+. “Olhando em retrospectiva, é incrível notar o quanto andamos para frente em um passado nem tão distante e o quanto retrocedemos nos últimos anos. Infelizmente, vivemos um período em que o conservadorismo tem nos prejudicado enquanto sociedade. Que em breve a gente supere tudo isso e volte a olhar para o futuro com esperança”.

Em seguida, Kelly opinou sobre a importância da data: “Pela primeira vez em mais de 30 anos debatendo sexualidade, sinto orgulho desse dia. Fico feliz que os veículos de comunicação, desde o ano passado, estejam abrindo os olhos para a nossa causa. Isso alcança muito mais gente do que o nosso trabalho, que é fundamental, mas infelizmente ainda tem pouca visibilidade”. Leonardo prosseguiu: “Quero agradecer a todos que vieram nessa luta antes de mim. Sem essas pessoas, hoje eu não estaria aqui. Orgulho para quem é negro, mora em comunidade e vive com HIV, é poder viver com dignidade”.

Vagner também discorreu sobre o Dia Internacional do Orgulho LGBTI+. “Na minha opinião, essa deveria ser uma data de resistência, não de orgulho. Eu, sinceramente, mesmo com toda a nossa luta diária, ainda não consigo sentir orgulho. O que faço hoje e farei sempre é resistir”. Luciana complementou: “O Brasil é o país que mais mata gays, lésbicas e transexuais no mundo. Como sentir orgulho disso? Eu me assumo como lésbica e preciso me impor enquanto cidadã para conquistar meu lugar na sociedade. Precisamos olhar para a frente sem esquecer do passado. Se ainda precisamos de um ‘dia’, é porque as coisas não estão tão boas assim”.

Avanços

O encontro continuou com Julio pedindo para que os convidados comentassem sobre os avanços experimentados pela população LGBTI+ na luta contra o preconceito e o estigma. Leonardo: “Acho que os principais avanços foram na área do acolhimento e do tratamento. Hoje, a gente ainda sofre muita discriminação, mas quando comecei no movimento social, era muito pior. Fico triste apenas que nem todos possam usufruir desses serviços. Na comunidade em que moro, por exemplo, o HIV ainda é uma palavra proibida. As pessoas que vivem com o vírus ficam escondidas”. Já Vagner disse: “O maior avanço foi a criação do programa de HIV/Aids no Brasil, em 1988. Nós da Abia, junto com outras ONGs fantásticas, tivemos um papel importante nesse processo. Desde então, quem vive com HIV passou a ter esperança. O vírus deixou de ser uma sentença de morte”.

Luciana deu prosseguimento ao debate. “Temos, sim, que comemorar as nossas conquistas. Somos um dos únicos países da América Latina que oferta a profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV para a sua população. Já existem também estudos avançados sobre vacinas. É claro que tudo isso tem que ser muito mais difundido, mas são avanços que devem ser celebrados”. Kelly frisou que “Não podemos deixar de destacar a importância do SUS. Todas as ferramentas que, hoje, ajudam a garantir a nossa sobrevivência, são ofertadas pelo serviço público de saúde. Ainda há muito  que evoluir principalmente no que diz respeito ao acolhimento, mas sem o SUS talvez muitas de nós, mulheres trans, não estivéssemos vivas”.

A live prosseguiu com uma provocação de Julio: “Como fazer com que a população mais vulnerável tenha acesso aos avanços biomédicos e à mandala de prevenção combinada?”. Leonardo foi direto ao ponto: “Para mim, é simples. Eu uso a linguagem popular. Falo gírias, palavrões e o que mais for necessário. O importante é me fazer entender. Luto para que populações periféricas, como a minha, possam levar uma vida longe do HIV”. Kelly completou: “Está cada dia mais difícil encontrar solidariedade e compaixão. Quando estou trabalhando nas ruas, não procuro fazer amizade, e sim criar um vínculo de confiança. A outra pessoa não precisa ser minha amiga. Se for, melhor, mas não é necessário. Preciso apenas que ela confie em mim”.

No final da reunião, Julio agradeceu a presença de todos, exaltou o alto nível do debate e pediu uma última palavra de cada participante. Vagner: “Quero finalizar dizendo que temos que lutar para reconquistar tudo o que perdemos. As escolas precisam voltar a falar de sexualidade sem tabus. Os programas de prevenção ao HIV devem voltar a ser prioridade para o poder público. Precisamos insistir na questão da prevenção combinada. Só com muita luta, um dia, passaremos a celebrar o orgulho de sermos como somos”. Luciana: “Eventos como esse renovam as minhas energias. Conversar com vocês é ótimo, pois me faz refletir sobre temas importantes que acabam ficando para trás na correria do dia a dia. Termino esse encontro com o coração transbordando de esperança”.

Kelly se despediu em seguida: “Estar com vocês é maravilhoso. Adoro as reuniões do ImPrEP, pois saio delas com a certeza de que toda a nossa luta vale muito a pena”. Leonardo encerrou o encontro: “Quero confessar para vocês que essa foi a primeira live  de que participei na vida. Estava um pouco nervoso, mas agora tenho certeza que não poderia ter sido melhor. Lutar no movimento social é a minha razão de viver. Estar com vocês é a certeza de que escolhi o lado certo nessa luta”.