Engajamento da comunidade para implementação do CAB-LA como PrEP no Brasil
O engajamento comunitário na pesquisa científica é essencial para promover o conhecimento da prevenção ao HIV, capacitar as partes interessadas e garantir intervenções eficazes e sustentáveis. No entanto, o envolvimento da comunidade de minorias sexuais e de gênero continua sendo um grande desafio.
Análise conduzida por Luciana Kamel, do Instituto nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, no Rio de Janeiro, e outros pesquisadores*, teve como objetivo avaliar o envolvimento comunitário como processo participativo no estudo ImPrEP CAB Brasil. O trabalho foi apresentado, em forma de pôster, na 5ª Conferência de Pesquisa em Prevenção do HIV (HIVR4P), realizada, de 6 a 10 de outubro, em Lima, Peru.
O ImPrEP CAB Brasil é um estudo de implementação da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV que, desde 2022, disponibiliza a opção de PrEP injetável com cabotegravir de longa duração, no mesmo dia da inclusão, para jovens de 18 a 30 anos de minorias sexuais e de gênero, em clínicas públicas que também ofertam a modalidade oral em seis cidades brasileiras (Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Florianópolis, Campinas e Manaus). Foram utilizadas boas práticas participativas para garantir o envolvimento eficaz das comunidades desde o início do projeto.
Durante o primeiro ano do estudo foram desenvolvidas as seguintes ações: 1) grupos de discussão com 34 membros das comunidades de minorias sexuais e de gênero para garantir o desenvolvimento de intervenções de prevenção ao HIV mais inclusivas e culturalmente apropriadas; 2) planos de trabalho comunitário para cada local, incluindo intervenções adaptadas às necessidades específicas dessas minorias; 3) disseminação de informações sobre a PrEP oral e a injetável entre as minorias, por meio de encontros virtuais e intervenções presenciais; 4) inclusão de 12 pessoas pertencentes a essas minorias como educadores e educadoras de pares nas clínicas do estudo para promover ambientes acolhedores, seguros e construir uma relação de confiança entre pesquisadores e participantes; 5) conscientização dos profissionais de saúde envolvidos para abordar barreiras linguísticas e alavancar recursos das comunidades locais para as necessidades sociais e de saúde específicas dos participantes.
O envolvimento da comunidade forneceu resultados extremamente significativos durante o primeiro ano de implementação do projeto. A inclusão de minorias sexuais e de gênero permitiu que suas necessidades e preferências fossem destacadas e alinhadas aos recursos existentes. Ter os educadores e educadoras de pares nas clínicas forneceu suporte centrado na pessoa aos participantes do estudo e aumentou a confiança durante os procedimentos, elevando a probabilidade de uma implementação bem-sucedida.
As conclusões do trabalho ressaltam que a disseminação do conhecimento em PrEP entre minorias sexuais e de gênero foi crucial para dissipar as desconfianças, os mitos e os estigmas relacionados à prevenção do HIV e demais infecções sexualmente transmissíveis, além de facilitar a implementação e a ampliação das tecnologias de PrEP.
*Autores:
Luciana Kamel (1), Keila Simpson (1), Julio Moreira (1), Thiago Torres (1), Marcos Benedetti (1), Tony Araujo (1), Laylla Monteiro (1), Gabriel Mota (2), Maya Alvarenga (2), Oliê Cárdenas (3), Matheus de Luca (3), Paola Alves (4), Vinicius Francisco (4), Bruna Fonseca (5), Uilian de Jesus (5), Erika Faustino (6), Marcelo Siqueira (6), Roberta Trefiglio (4), Brenda Hoagland (1), Beatriz Grinsztejn (1), Valdiléa Veloso (1) e Cristina Pimenta (1)
(1)Instituto nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
(2)Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado, Manaus, Brasil
(3)Centro de Testagem e Aconselhamento – CTA/Policlínica Centro, Florianópolis, Brasil
(4)Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids – CRT, São Paulo, Brasil
(5)Centro Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa -CEDAP, Salvador, Brasil
(6)Centro de Referência em DST/Aids, Campinas, Brasil