Enfrentamento a Covid-19 foi tema de simpósio satélite do INI/Fiocruz na IAS 2023
O Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fiocruz, esteve presente à 12ª Conferência da International AIDS Society sobre Ciência do HIV (IAS 2023), realizada de 23 a 26 de julho de 2023, em Brisbane, Austrália, com uma diversificada programação, que incluiu a apresentação de vários trabalhos do projeto ImPrEP (http://imprep.org/2023/08/03/simposio-satelite-do-imprep-cab-brasil-e-destaque-na-ias-2023/). Destaque, também, para a organização do simpósio satélite “Testagem, cuidados e vigilância inovadores em tempo real em resposta à Covid-19 – a pandemia em contextos locais“, promovida em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
O encontro contou com as participações de Valdiléa Veloso, diretora do INI e co-pesquisadora principal do ImPrEP CAB Brasil, Inês Dourado, pesquisadora da UFBA, Laio Magno, pesquisador da UNEB, Thais Aranha, pesquisadora da UFBA, Thiago Torres, pesquisador do INI, Purvi Shah, do Programa Global de HIV, Hepatites e IST da Organização Mundial da Saúde, e Olga Denisiuk, da Fundação para Novos Diagnósticos Inovadores (FIND).
O simpósio focou no “Projeto TQT (testagem, quarentena e telemonitoramento)”, cujo principal objetivo era expandir cuidados de saúde relacionados à pandemia em unidades básicas do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir da implementação da ação em dois locais economicamente desfavorecidos e vulneráveis: Complexo de Manguinhos (RJ) e Cabula-Beiru, em Salvador (BA).
Valdiléa Veloso abriu os trabalhos mostrando dados da Covid-19 no Brasil e ressaltando que Rio de Janeiro e Salvador foram duas das capitais brasileiras mais afetadas pelo vírus. Em seguida, forneceu dados do projeto TQT referentes ao Complexo de Manguinhos. Em relação à vacinação, no total, apenas 61% dos moradores da região tomaram as duas doses da vacina e 20% a dose do imunizante bivalente. Como comparação, em toda a cidade do Rio de Janeiro, 92% da população tomaram as duas doses e 21% a bivalente.
Afirmou, ainda, que de novembro de 2022 a julho de 2023 foram realizados 4.639 testes rápidos de Covid-19 no local, com taxa de positividade de 11%. Os picos de maior positividade foram em novembro de 2022, com a entrada da variante Ômicon no país, e em fevereiro e março de 2023, período concomitante ao carnaval. A adesão à testagem e ao telemonitoramento foi considerada satisfatória.
Situação socioeconômica desfavorável
Inês Dourado discursou sobre o tema “Covid-19 em situação socioeconômica altamente desfavorável em bairros de duas capitais brasileiras”. Explicou que o distrito de Cabula possui uma população de 400 mil habitantes e que as unidades de saúde escolhidas para participar do estudo foram aquelas localizadas em áreas de menor IDH e com maiores taxas de testes de Covid-19 positivos. Em seguida, foram executados treinamentos com os profissionais dessas unidades, estruturados em quatro etapas: plataforma digital, implementação de estratégias de TQT, expansão de testes e vigilância.
A pesquisadora destacou também a centralidade do SUS e a importância da atenção primária à saúde, da criação de demandas de comunicação para atingir mais pessoas com maior clareza e da introdução de estratégia de telemonitoramento para evitar aglomerações nos serviços públicos de saúde.
Laio Magno apresentou “Pandemia no Brasil: expansão de testes e estratégias de vigilância para lutar contra a Covid-19”, afirmando que o uso de máscaras, a lavagem das mãos e os testes rápidos foram as principais estratégias de combate ao vírus relatadas pelos participantes do estudo. Informou que a maioria dos voluntários era composta de não brancos e por mulheres cisgênero e citou que a variante de maior circulação no Brasil durante o período de acompanhamento foi a Ômicron, seguida pela Delta.
Para encerrar sua apresentação o pesquisador apresentou os resultados preliminares do estudo. Segundo Laio, a implantação do autoteste de Covid-19 em 19 serviços de saúde pública no Rio de Janeiro e em Salvador beneficiou mais de 12.838 pessoas até o final de maio de 2023.
Autoteste
Thiago Torres discorreu acerca de “Conhecimento e usabilidade sobre o autoteste em duas capitais brasileiras”. O pesquisador explicou que o objetivo principal desse trabalho foi analisar a aceitabilidade do autoteste de Covid-19 em áreas de maior vulnerabilidade socioeconômica do Rio de Janeiro e de Salvador.
Como informação referencial, disse que São Paulo é a capital brasileira com maior índice de aceitabilidade do autoteste (49%). No Brasil inteiro, essa mesma taxa fica em 46,1%. Segundo o pesquisador, enquanto a maioria dos autotestes realizados no Rio de Janeiro teve resultado negativo, em Salvador a maior parte apresentou resultado positivo.
Thiago finalizou sua participação afirmando que o autoteste foi satisfatoriamente aceito, embora os participantes tenham relatado alguma dificuldade para interpretar os resultados. Para o pesquisador, é urgente aumentar a conscientização da importância da ferramenta, principalmente nas regiões menos favorecidas do país.
Já Thais Aranha abordou a “Implantação de plataformas digitais para a realização do teste de Covid-19 na atenção primária de saúde em duas capitais brasileiras”. Ela afirmou que, durante a pandemia, uma variedade de novas e antigas tecnologias foram utilizadas para auxiliar na resposta de saúde pública e enfatizou a importância de ferramentas digitais para ajudar os sistemas de saúde a serem mais eficientes e alcançarem um número maior de pessoas.
A pesquisadora destacou que, para o desenvolvimento de plataformas digitais, foi preciso uma revisão da literatura já existente sobre o tema e a realização de novas pesquisas formativas. Um total de nove grupos de discussão e 127 entrevistas semiestruturadas foram necessárias para a execução desse trabalho.
Thais prosseguiu explicando a importância do treinamento realizado em conjunto com pesquisadores, profissionais de saúde e agentes comunitários. Além disso, celebrou os resultados positivos alcançados pelas plataformas digitais, sobretudo em áreas menos favorecidas do Rio de Janeiro e de Salvador.
Lições para futuras pandemias
Purvi Shah focou sua apresentação nas lições aprendidas na Covid-19 para futuras pandemias – testes, vigilância e telemedicina. Destacou a importância do rastreamento e dos testes rápidos para a preservação de milhões de vidas em todo o mundo, ressaltando que foram privilegiadas as populações e as áreas de maior vulnerabilidade socioeconômica.
Purvi contou que foi fundamental o acompanhamento global da evolução da pandemia e que para isso a integração de múltiplos sistemas de vigilância em saúde foi indispensável. Em seguida, falou sobre a mitigação de transmissões, que foram alcançadas por meio do uso de máscaras, testes rápidos e medidas restritivas, como a quarentena e o lockdown.
Encerrou exaltando a implantação de novos programas públicos de saúde, a adoção de telemedicina para evitar visitas presenciais aos serviços de saúde e a utilização de ferramentas, como aplicativos e redes sociais, para alcançar um elevado número de pessoas.
Olga Denisiuk finalizou a reunião traçando um rápido cenário da pandemia de Covid-19 e das ações realizadas para o combate ao vírus em todo o mundo. Ela elogiou o trabalho desenvolvido pelos pesquisadores brasileiros, lembrou a importância do atendimento primário em saúde em áreas de maior vulnerabilidade socioeconômica e ressaltou a relevância da popularização do autoteste como ferramenta fundamental para conter a proliferação da doença e evitar novas mortes.