Impacto da transmissão do HIV pela utilização de PrEP em centros urbanos no Brasil: um estudo de modelagem
“Impacto da transmissão do HIV pela utilização de PrEP em centros urbanos no Brasil: um estudo de modelagem”, capitaneado por Paula Luz, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fiocruz, e outros pesquisadores*, foi apresentado pelo ImPrEP na 28ª Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI), realizada virtualmente de 6 a 10 de março de 2021.
A análise partiu da premissa de que gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (GBM) no Brasil continuam desproporcionalmente afetados pelo HIV, apesar da disponibilidade de prevenção e tratamento. Nesse sentido, o estudo buscou estimar os benefícios clínicos de aumentar a utilização diária oral de tenofovir/emtricitabina (TDF/FTC) com financiamento público para a PrEP.
O modelo de custo-efetividade utilizado avaliou o impacto do aumento da adoção de PrEP em diferentes níveis (variação de 10-60%) em diferentes prazos (de 24 a 60 meses) em uma coorte de adultos ( ≥18 anos) de GBM sem HIV. Também foram usados estudos locais, dados nacionais e literatura internacional para representar a epidemia de HIV em três cidades brasileiras: Rio de Janeiro, Salvador e Manaus. As taxas de incidência do vírus estratificadas por idade foram mais altas no Rio de Janeiro (4,3/100 pessoas-ano), Salvador (2,5/100) e Manaus (1,4/100).
A eficácia da PrEP foi de 96% e a adesão, de 74%. Os resultados incluíram infecções por HIV, com e sem PrEP, ao longo de 5 e 10 anos. Em análises de sensibilidade, examinou-se como os resultados variaram com mudanças na adesão à profilaxia (faixa de 50-85%), taxas de descontinuidade (faixa de 0-25%/ano) e idade no início do uso da PrEP. Também foi estimado o nível de utilização da profilaxia necessário para atingir 75% de redução da incidência de HIV em cinco anos.
Os resultados do trabalho apontam que uma intervenção de PrEP alcançando 10% de captação entre GBM dentro de 60 meses poderia evitar 501 infecções no Rio de Janeiro (em Salvador, 133; em Manaus, 119) em cinco anos. Alcançar 60% de utilização da profilaxia entre GBM em 24 meses evitaria 10 vezes mais infecções: 35,9% de redução da incidência no Rio de Janeiro, 37,8% em Salvador e 38,9% em Manaus. Em análises de sensibilidade, aumentar a adesão à PrEP para 85% subiria o número de infecções evitadas em 14%; já diminuir a adesão para 50% reduziria as infecções evitadas em 31%. Para atingir as metas de redução de incidência de 75% em cinco anos, uma intervenção de PrEP precisaria atingir 80% de captação entre GBM ao longo de 36 meses. Como principal conclusão, a análise indica que o aumento da utilização da profilaxia oral no Brasil diminuiria substancialmente a transmissão do HIV nos próximos 5 a 10 anos.
*Autores dos trabalhos
Paula Luz (1), VijetaDeshpande (2), PooyanKazemian (3), Justine Scott (2), FatmaShebl (2), Cristina Pimenta (4), Madeline Stern (2), Gerson Pereira (4), Claudio Struchiner (1), Beatriz Grinsztejn (1), Valdilea Veloso (1), Kenneth Freedberg (2, 3, 5, 6, 7, 8) e A. David Paltiel (9)
(1) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
(2) Medical Practice Evaluation Center, Massachusetts General Hospital, Boston EUA
(3) Harvard Medical School, Boston, EUA
(4) Ministério da Saúde do Brasil
(5) Division of General Internal Medicine, Massachusetts General Hospital, Boston, EUA
(6) Harvard University Center for AIDS Research, Harvard Medical School, Boston, EUA
(7) Division of Infectious Disease, Massachusetts General Hospital, Boston, EUA
(8) Department of Health Policy and Management, Harvard School of Public Health, Boston, EUA
(9) Yale School of Public Health, New Haven, EUA