Simpósio ImPrEP/Aids 2020: a experiência do estudo no Peru
Organizado pelo estudo ImPrEP durante a 23ª Conferência Internacional de Aids (Aids 2020), realizada de forma virtual em julho nos EUA, o simpósio satélite “Avançando na implementação da PrEP para HSH e mulheres trans na América Latina: lições aprendidas com o projeto ImPrEP” contou com a participação de Carlos Cáceres, pesquisador principal do ImPrEP no Peru, que começou a sua apresentação ressaltando que o esforço colaborativo entre o Ministério da Saúde peruano e a Universidade Peruana Cayetano Heredia resultará na implementação do conceito de prevenção combinada ao HIV, por meio da inclusão da profilaxia pré-exposição (PrEP) e o seu consequente aumento de uso naquele país. Além disso, a parceria irá colaborar para potencializar estratégias efetivas para lidar com dois importantes públicos-alvo: gays/outros homens que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres trans.
O ImPrEP no Peru, de acordo com o pesquisador, é viabilizado por meio da oferta da profilaxia em nove serviços públicos (clínicas de infecções sexualmente transmissíveis – IST) e um privado (Inmensa). O recrutamento foi realizado de junho de 2018 a dezembro de 2019 e o período de acompanhamento durará de um ano e meio a três anos (até meados de 2021).
Em seguida, apresentou dados gerais do projeto nos três países, destacando a baixa presença de mulheres trans: 12,4% no Peru, 4,9% no Brasil e 2,6% no México, numa média total de 6% dos participantes. Citou, ainda, a distribuição etária do total de usuários: no Brasil, 26,1% de 18 a 24 anos e 73,9% maiores de 25 anos; no México, 20,3% de 18 a 24 anos e 79,7% maiores de 25 anos; e no Peru, 35,8% de 18 a 24 anos e 64,2% maiores de 25 anos.
Cáceres informou que, no Peru, o Programa de Prevenção Pública de HIV foi inspirado no antigo Programa de Doenças Venéreas, utilizando suas instalações e dirigido às trabalhadoras do sexo. A PrEP tem sido oferecida por meio desse programa, que alcança um grande número de pessoas vulneráveis, principalmente jovens e trans.
Algumas estatísticas apresentadas sobre os usuários de PrEP no Peru: 23,5% são trabalhadores/as do sexo; nos últimos seis meses 36,2% apresentaram diagnósticos ou sinais de IST (9,4% sífilis, 9,5% gonorreia e 15,3% clamídia), 4,5% reportaram o uso de preservativo em todas as relações sexuais, 9,8% afirmaram ter feito sexo sem proteção com parceiro HIV positivo e 58% relataram sexo sem proteção com parceiros de status de HIV desconhecido.
O pesquisador teceu algumas comparações entre o Peru e os dois outros países que integram o consórcio ImPrEP. No Brasil e no México, a principal razão reportada para o acesso aos serviços de saúde oferecido pelo projeto foi a busca pela PrEP (96% e 95,9%, respectivamente), contrastando com apenas 59,9% no Peru. Em relação ao atendimento às duas primeiras visitas de acompanhamento até 120 dias após o início da PrEP (early continuation), o índice no Brasil alcançou 83,1%, no México 81,6% e no Peru 48,5%. Em termos de soroconversão ao HIV, nove aconteceram no Brasil, cinco no México e 23 no Peru.Carlos informou que, infelizmente, a descontinuidade precoce atinge cerca de 50% dos usuários de PrEP do Peru. No Brasil e no México, esse índice fica em aproximadamente 20%.
Entre as lições preliminares acerca da implementação da PrEP no Peru, Carlos afirmou que o projeto está alcançando uma proporção maior de usuários com riscos mais elevados de infecção pelo HIV, entre eles menores de 25 anos, mulheres trans e profissionais do sexo. Apesar disso, essas pessoas apresentam baixo conhecimento sobre a profilaxia, maior intenção de receber do que buscar o medicamento e maior probabilidade de descontinuar o seu uso de forma precoce e se tornar soropositivo.
Finalizando, afirmou que, para efetivamente se alcançar as populações mais vulneráveis, é preciso melhorar o nível das informações, criar demandas específicas, dar preferência aos que de fato buscam a PrEP e aumentar o acesso em termos de tempo, custo, acolhimento,flexibilidade e apoio.