2020 PrEP: tecnologia de prevenção

PrEP eventual: novos desafios para a implementação na América Latina

Na 23ª Conferência Internacional de Aids (Aids 2020), ocorrida de forma virtual em julho nos EUA, a coordenadora clínica do ImPrEP, Brenda Hoagland, participou do simpósio “Ampliando o acesso à PrEP 2 + 1 + 1: experiências iniciais na implantação da event-driven PrEP em países de renda baixa e média”, promovido pela Organização Mundial da Saúde, com a palestra “PrEP eventual: novos desafios para a implementação na América Latina”.

Brenda iniciou sua apresentação lembrando que, em julho de 2019, a OMS atualizou as diretrizes da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV e recomendou o uso do esquema eventual, também conhecido como PrEP sob demanda, para gays/outros homens que fazem sexo com homens (HSH) que relatam sexo pouco frequente (um dia por semana ou menos em média) e são capazes de adiar a relação sexual não planejada por pelo menos duas horas. Essa recomendação ainda não foi incluída na diretriz brasileira de PrEP, onde a profilaxia oral diária é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para populações com alto risco de infecção pelo HIV.

Para embasar sua explanação, a coordenadora clínica apresentou dados de uma pesquisa via web realizada no Brasil, México e Peru com 19.457 HSH, em 2018, em que 23% dos entrevistados relataram preferência pela PrEP eventual em vez do esquema diário e da PrEP injetável. Nessa população, aqueles que já fizeram teste para o HIV, os que reportaram menor número de parceiros masculinos e os que estavam conscientes acerca da profilaxia preferiam o esquema eventual. Já outra pesquisa on-line realizada no Brasil, em 2017, mostrou que HSH mais jovens estariam mais interessados ​​em outras modalidades de PrEP, incluindo a eventual.

​Em seguida, esclareceu que o ImPrEP é um projeto cujo objetivo principal é avaliar a aceitação, aceitação e viabilidade de serviços de entrega da PrEP no mesmo dia (TDF / FTC por via oral uma vez ao dia) para HSH e população trans no contexto da prevenção combinada ao HIV no Brasil, México e Peru. O projeto está chegando ao seu terceiro ano, com 8.324 participantes incluídos nos três países. Um questionário transversal para explorar o conhecimento/aceitabilidade da PrEP eventual foi aplicado a todos os usuários do ImPrEP que participaram de uma visita trimestral entre fevereiro e março de 2020. Em razão de essa atividade ter sido temporariamente interrompida devido à pandemia do Covid-19, os resultados apresentados são preliminares sobre o conhecimento e a disposição de usar a PrEP eventual.

Nos três países, 1.409 participantes do ImPrEP responderam ao questionário: 566 do Brasil, 511 do México e 332 do Peru. Cerca de 50% tinham entre 25 e 30 anos e a maioria era HSH (93,4%). A maior parte relatou o uso diário de PrEP, conforme recomendado pelo estudo. Mais participantes do Brasil e do Peru nunca ouviram falar da PrEP eventual quando comparados aos do México. Após breve explicação desse esquema, a maioria dos participantes nos três países mostrou baixa disposição para trocar a PrEP diária pela eventual. Curiosamente, embora a maior parte dos respondentes não estivesse disposta a usar PrEP eventual, cerca de 40% relataram ter feito sexo uma ou duas vezes por semana, o que poderia potencialmente torná-los candidatos a esse esquema.

Os principais motivos para a não disponibilidade de usar a PrEP eventual em vez do esquema diário foram a falta de programação em relação aos atos sexuais, maior ansiedade em termos de risco de contrair o HIV e a boa adaptação em relação à PrEP diária. Além disso, a maioria dos participantes do Peru e do México tem a impressão de que a PrEP eventual é menos eficaz que a diária, mas apenas metade dos brasileiros concorda com essa afirmação.

Somente 328 participantes se mostraram dispostos a usar o esquema eventual no lugar do diário, alegando conveniência, condições de adiar o ato sexual por pelo menos duas horas e por ter um bom planejamento de quando fazem sexo. Entre esses respondentes, a maior parte crê não ser difícil tomar comprimidos todos os dias, embora quase metade não goste de ingeri-los, e não considera a PrEP diária prejudicial ao corpo, apesar de afirmar ter medo dos efeitos colaterais a longo prazo.

Entre as conclusões do trabalho, a constatação de haver poucas informações disponíveis acerca do conhecimento e disponibilidade de usar a PrEP eventual entre HSH nos países da América Latina. Dados recentes de uma pesquisa na web realizada durante o período de distanciamento social imposto pelo Covid-19 no Brasil, de abril a maio de 2020, mostraram que apenas 1% dos usuários de PrEP utilizaram o esquema eventual, por decisão própria, já que ainda não há orientação oficial para tal. A maioria manteve o uso diário (69%), 28% o interromperam e 2% adotaram esquema sem padrão.  

Resultados preliminares dos usuários da PrEP diária do projeto ImPrEP no Brasil, México e Peru sugerem a necessidade de maiores atividades educacionais sobre o esquema eventual entre HSH. Além disso, havendo aumento da conscientização e do conhecimento sobre esse esquema, é possível que as pessoas que atualmente usam a PrEP diária se disponham a mudar para a PrEP eventual com base na frequência e na capacidade de gerenciamento da vida sexual. 

Para acessar o material apresentado na conferência:https://1395cf30-9035-4b27-b33f-738f50602472.filesusr.com/ugd/f93c93_d5eae37292a545ff887e9480349d186b.pdf