Estratégias usadas por casais de homens gays sorodiscordantes, em três países, para reduzir o risco de transmissão do HIV por relação sexual anal
Existem poucos dados sobre a gama de estratégias usadas para prevenir a transmissão sexual do HIV entre casais de homens gays sorodiscordantes. O estudo “Opostos se atraem” (autores listado ao final) examinou as estratégias de prevenção usadas por tais casais e comparou as diferenças na Austrália, Brasil e Tailândia.
O estudo ocorreu de maio de 2014 a dezembro de 2016, na Austrália, e de maio de 2016 a dezembro de 2016, no Brasil a na Tailândia. Nas visitas, os parceiros que viviam com HIV tiveram sua carga viral (CV) testada. Parceiros HIV negativos relataram seus comportamentos sexuais e a percepção acerca do resultado da carga viral de seus parceiros positivos. Nos casais, a prática de relação sexual anal foi categorizado por estratégias: protegidos por preservativo, protegidos biomedicamente (CV não detectável e/ou profilaxia pré-exposição – PrEP), ou não protegidos por nenhum dos dois: parceiros HIV negativos que praticam ato sexual anal sem preservativo (SASP) ativo, SASP receptivo com coito interrompido (retirada do pênis) ou SASP receptivo com ejaculação.
O total de 343 casais foi incluído nessa análise (153 na Austrália, 93 no Brasil e 97 na Tailândia). Três quartos dos parceiros vivendo com HIV tiveram a carga viral não detectável (menos de 200 cópias/ml) durante o acompanhamento e os parceiros HIV negativos tiveram a percepção correta do resultado de CV de seus parceiros para 76,5% dos testes. Um terço dos parceiros HIV negativos usou diariamente a PrEP durante o acompanhamento.
Parceiros HIV negativos relataram 31.532 atos de relação sexual anal com seus parceiros positivos. Destes, 46,7% foram protegidos pelo uso de preservativo, 48,6% por estratégia biomédica e 4,7% não foram protegidos por nenhuma dessas estratégias. Os casais australianos tiveram menos práticas com preservativo e maior proporção de proteção biomédica do que os casais brasileiros e tailandeses. Dos 1.473 atos sem preservativo e não protegidos por PrEP (4,7% de todas as práticas), dois terços (983) aconteceram quando o parceiro HIV negativo era ativo. Dos 490 atos em que o parceiro HIV negativo era passivo (receptivo), 261 envolveram o coito interrompido e 280 envolveram ejaculação. Portanto, menos de 1% do total de atos foram na modalidade mais arriscada do sexo anal: sem preservativo e passivo (receptivo) com ejaculação.
O estudo aponta que, na maioria das práticas sexuais anais, os casais entenderam que as melhores formas de prevenção ao HIV são o uso de preservativo ou a estratégia biomédica. Apenas uma pequena parte dos atos sexuais anais foram totalmente desprotegidos. Concluiu-se também que a variação entre países pode ser reflexo das diferenças de acesso a tratamento de HIV, educação, conhecimento e atitudes.
O estudo foi publicado em forma de artigo no Journal of International AIDS Society, em 2019: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/jia2.25277
Autores do estudo: Benjamin R. Bavinton (The Kirby Institute), Garrett P. Prestage(The Kirby Institute), Fengyi Jin(The Kirby Institute), Nittaya Phanuphak (Thai Red Cross Aids Research Center), Beatriz Grinsztejn (Fiocruz), Chistopher K. Fairley (Melbourne Sexual Health Center), David Baker (East Sydney Doctors), Jennifer Hoy (Monash University), David J. Templeton (The Kirby Institute), Ban K. Tee (Centre Clinic, Melbourne), Anthony Kelleher (The Kirby Institute) e Andrew E. Grulich (The Kirby Institute).