Anos anteriores Espaço HSH Espaço Trans PrEP, HSH e trans

Artigo mostra alguns dados sobre o projeto PrEPare 2 (ATN 110), voltado para homens que fazem sexo com homens entre 18 e 22 anos

Homens que fazem sexo com homens (HSH) com idade entre 18 e 25 anos, especialmente negros e latinos, são atualmente o grupo mais impactado por novas infecções de HIV nos Estados Unidos. Tal dado demonstra a urgência de se desenvolverem estratégias preventivas específicas para esta população. O artigo An HIV Pre-Exposure Prophylaxis (PrEP) Demonstration Project and Safety Study for Young MSM, escrito por diversos autores, dentre eles Sybil Hosek e Bret Rudy, apresenta um destes esforços através do primeiro estudo com a PrEP direcionado para este grupo, o projeto PrEPare 2 (ATN 110), ocorrido entre março e setembro de 2013.

Mesmo tendo havido outros estudos com a PrEP que incluíssem HSH jovens, a participação deste grupo não chegou a um número significante. Projetos como o iPrEx OLE e DEMO contaram com cerca de 20% de participantes com esse perfil. O artigo defende, contudo, haver características no comportamento de jovens que requerem um trabalho direcionado, algo que passou despercebido em outros estudos. Ao mesmo tempo em que um maior número de HSH jovens tende a assumir comportamentos sexuais de risco, a tendência em aderir à PrEP também é menor.

Os objetivos principais do PrEPare 2 foram: 1) fornecer dados específicos sobre o uso de TDF/FTC (Emtricitabina e Tenofovir), o Truvada®, entre HSH jovens não infectados pelo HIV, 2) examinar a aceitabilidade, padrões de uso, taxas de aderência e níveis medidos de exposição ao TDF/FTC e 3) examinar os padrões de comportamento de risco quando jovens HSH após orientação sobre comportamento de risco antes do início da PrEP.

O estudo ocorreu em 12 cidades norte-americanas com alta prevalência de infecções de HIV entre jovens – Baltimore, Boston, Chicago, Denver, Detroit, Houston, Los Angeles, Memphis, Miami, New Orleans, Philadelphia e Tampa. Diversos métodos de recrutamento foram utilizados, incluindo aproximações em locais frequentados por HSH jovens e anúncios online em redes sociais e aplicativos. Jovens nascidos com sexo masculino, entre 18 e 22 anos no momento da assinatura do termo de consentimento, HIV negativo e que relatassem ter tido comportamento de risco nos últimos 6 meses eram elegíveis para entrar no estudo.

De um total de 2186 indivíduos que foram abordados em um dos diversos meios de divulgação, 400 foram considerados elegíveis e 200, por fim, participaram do PrEPare 2. A média de idade dos participantes foi de 20 anos. Neste grupo, ainda, 20% (n=53) se identificavam como latinos; 66% como negros/afro americanos; 29% como brancos, 3% como multiétnico e 2% como asiáticos ou índios americanos. A maioria – 77,8% – se identificou como gay. 45,5%, ou seja, quase metade dos participantes completaram iniciaram ou completaram o ensino superior e 30,1% estavam desempregados.

Os candidatos para ingressar no estudo foram questionados sobre práticas de comportamento de risco para a transmissão do HIV (sexo anal sem camisinha, múltiplos parceiros sexuais, DSTs recentes), testagem de HIV, disposição para fornecer informações de contato e para tomar TDF/FTC como PrEP, assim como para participar em uma das intervenções comportamentais oferecidas. Estas últimas eram agendadas assim que o candidato se mostrasse elegível. Após esta participação inicial, a dose de uma pílula de TDF/FTC por dia era prescrita e fornecida.

As visitas ao centro de estudo ocorriam inicialmente a cada mês (semanas 4,8 e 12) e em seguida trimestralmente até chegar a 48 semanas. Nas semanas 12 e 48, uma avaliação media a aceitabilidade da PrEP. A cada visita, eram colhidos dados comportamentais e biomédicos. Este último procedimento incluía desde relatos sobre possíveis efeitos colaterais com o início da PrEP até a execução de exames para detecção de DSTs e contagem do nível do medicamento da PrEP no sangue. Um amplo pacote de serviços de prevenção ao HIV era ainda fornecido aos participantes cada vez que compareciam ao centro do estudo. O aconselhamento durante as visitas visava não apenas ouvir sobre comportamento sexual dos participantes e orientar sobre formas de prevenção, como também fornecer apoio na continuidade da PrEP. Este último procedimento se mostrou uma das mais importantes ferramentas na adesão à PrEP entre HSHS jovens.

Dentre 200 participantes, 58 se desligaram do estudo antes de seu término. As razões alegadas foram abandono (n=34), retiraram o consentimento do estudo (n=9) ou se mudaram de área (n=7). O estudo foi seguido até o fim, portanto, por 71% dos voluntários. 90% relataram ter “gostado” ou “gostado muito” de participar do projeto.

Exames demonstraram níveis detectáveis de TDF/FTC no sangue ao longo do estudo na maioria dos participantes: 90% nas 12 primeiras semanas, 81% na semana 24 e 69% na semana 48. Ou seja, houve uma tendência a um declínio na adesão à PrEP com o passar do tempo.

As razões mais relatadas sobre o porquê participantes deixaram de ingerir as pílulas de TDF/FTC foram: “frequentemente” ou “às vezes” eles simplesmente esqueceram (28,5%), se encontraram longe de casa (27,5%) ou ocupados com outras coisas (26,7%). Apenas alguns pacientes relataram ter evitado o medicamento por causa dos efeitos colaterais (4,5%), por não desejar que outros os vissem tomando-o (2,5%) ou porque acreditaram que a pílula era prejudicial (1,9%).

No momento de inscrição no PrEPare 2, 81% dos voluntários relataram ter feito sexo sem camisinha com pelo menos um parceiro no último mês; destes, 58% afirmaram ter praticado sexo sem camisinha como passivos (receptivo) com o último parceiro. O nível de adesão dos participantes com estes perfis demonstrou ser maior em relação aos outros, o que demonstrou uma ligação entre a tendência a seguir a PrEP e a prática de comportamento de risco.

Ainda, 22% dos participantes foram diagnosticados com alguma DST no início do estudo. No restante do tempo, a incidência de DSTs foi de 66,4%, sendo maior nas primeiras 24 semanas do início do projeto. Já dentre os 200 participantes, 4 contraíram o vírus HIV durante a participação no estudo. Nenhum deles, contudo, possuía níveis detectáveis de TDF/FTC no sangue, o que demonstra que eles não estavam ingerindo medicamento em períodos próximos ao da infecção.

É uma tendência comum que a adesão entre participantes mais jovens tenda a diminuir mais do que as populações de mais idade. Isto mostra o quão importante deve ser possuir estratégias de interferência para estimular a continuidade na adesão. O artigo sugere, para isto, a tentativa de métodos que já funcionaram em tratamentos de portadores do HIV com a mesma faixa etária, como enviar mensagens de texto ou telefonar àqueles que fazem a PrEP.

Além da idade, outro fator que pode ter estimulado o declínio na adesão da PrEP foi a mudança no espaçamento entre as visitas no centro de estudo, que passou de mensais a trimestrais em certo momento do estudo. Isto reforça a importância da manutenção de algum vínculo que estimule a não abandonar a PrEP. O artigo chega mesmo a levantar a necessidade da abertura para visitas alternativas, fora daquelas pré-estabelecidas, como medida importante para lidar com esse perfil de participante.

Link para o resumo do artigo:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=An+HIV+Pre-Exposure+Prophylaxis+(PrEP)+Demonstration+Project+and+Safety+Study+for+Young+MSM