Anos anteriores PrEP: tecnologia de prevenção

Sintomas, efeitos colaterais e adesão no estudo iPrEX

Apesar de bem aceita pela maioria, parte dos usuários da Profilaxia pre-exposicao (PrEP) frequentemente relatam efeitos colaterais nos primeiros meses de uso. Em sua maior parte de natureza gastrointestinal, tais efeitos aparecem geralmente logo após o início da ingestão diária do Truvada (combinação dos antirretrovirais tenofovir e emtricitabina) – o medicamento utilizado na PrEP -, e tendem a desaparecer em até três meses. O artigo Symptoms, Side Effects and Adherence in the iPrEx Open-Label Extension (Sintomas, efeitos colaterais e adesão no estudo de fase aberta do IPrEX), publicado na Clinical Infectious Diseases em janeiro de 2016 e escrito com a colaboração de diversos pesquisadores, como a doutora Beatriz Grinsztejn do Instituto Nacional de InfectologiaINI/Fiocruz e David V. Glidden, da Universidade da Califórnia, investiga se estes efeitos colaterais, recorrentes entre usuários da PrEP, interferem na permanência ou abandono do tratamento.
Como fonte de dados, o artigo utilizou informações da pesquisa em fase aberta do estudo iPrEx, que contou com participantes soronegativos – 1085 homens cis HSH (Homens que fazem sexo com Homens) e 140 mulheres trans. Os participantes da pesquisa pertenciam a 11 lugares distintos de 6 países: Brasil, Equador, Peru, África do Sul, Tailândia e Estados Unidos. Quase todos (90% deles, segundo o artigo) haviam participado da fase anterior do estudo do iPrEx – o período duplo-cego, em que parte dos pacientes ingere o medicamento de fato, enquanto a outra ingere placebo, ambos sem saber qual está tomando.
Os voluntários da fase aberta do iPrEx realizaram visitas continuadas entre 2011 e 2012. Inicialmente, a frequência era mensal, durante os 3 primeiros meses, e trimestral para os seguintes, por um período que poderia se estender até 18 meses (o tempo de participação variou de 12 a 18 meses). Em cada visita, os voluntários preenchiam um formulário em que informavam a presença de sintomas de efeitos colaterais, assim como sua natureza (se era do tipo gastrointestinal ou não). Também respondiam sobre a duração dos sintomas, e se estes tinham melhorado ou persistiam.
Segundo o artigo, cerca de 16% dos usuários apresentaram algum tipo de efeito colateral após iniciar a PrEP. Os sintomas mais comuns relatados são náusea, dor abdominal, flatulência, vômito, tontura e fatiga, os dois últimos classificados como de natureza não gastrointestinal. Tais sintomas, como afirmado acima, tendem atingir o ápice durante o primeiro mês depois de iniciar a PrEP e a desaparecer a cerca de três meses do início do tratamento.
Segundo o artigo, apenas 56, ou seja, 5% dos participantes relataram ter interrompido a PrEP por ter sentido algum efeito colateral. Por serem os sintomas comuns em qualquer fase da vida, o artigo concluiu também que muitos usuários da PrEP nem mesmo atribuíram os sintomas sentidos ao Truvada. Do total de voluntários que relataram algum sintoma, 22 retornaram posteriormente à PrEP e 34 abandonaram o tratamento.
Foi constatado ainda que o nível de escolaridade dos participantes influencia no relato dos sintomas – quanto maior o tempo de estudos completo, maior a probabilidade de qualquer efeito colateral ser relatado. A explicação para isto, segundo o artigo, é a de que uma maior escolaridade leva os voluntários a interpretarem qualquer experiência adversa como possível efeito associado ao uso do Truvada e, portanto, importante de ser relatada.
Por fim, é importante dizer que, proporcionalmente, um número muito maior de voluntários desiste de fazer a PrEP antes de iniciá-la do que aqueles que realmente o iniciam e abandonam pelos efeitos colaterais. Segundo o artigo, dos 1225 participantes da fase aberta do iPrEx o percentual de desistência foi de apenas 2,7% do total. Já em relação aos que desistiram da PrEP pela possibilidade de sentir algum mal-estar, este número sobe para 50% (189 dos 378 que não participaram teriam alegado ter sido este o motivo da desistência). Isto quer dizer que o receio dos efeitos colaterais é maior do que realmente senti-lo e desistir da PrEP, algo que, como já foi dito, desaparece depois dos primeiros meses.

Link para o resumo do artigo:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Symptoms%2C+Side+Effects+and+Adherence+in+the+iPrEx+Open-Label+Extension

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