Preparação para a possível integração da PrEP injetável de ação prolongada no SUS
Embora a profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV na modalidade injetável de ação prolongada com o cabotegravir (CAB-LA) tenha se mostrado eficaz em ensaios clínicos, novos estudos são necessários para testar a sua eficácia em cenários do mundo real. Recém-publicado na edição de outubro do periódico JMIR Publications, artigo de autoria de Cristina Pimenta, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz-RJ, e outros colaboradores*, registrou o trabalho formativo do estudo ImPrEP CAB Brasil.
O ImPrEP CAB Brasil tem por objetivo criar subsídios científicos visando à possível integração da PrEP injetável ao SUS, como mais uma alternativa de prevenção ao HIV, adicionando opção de escolha ao formato oral oferecido desde 2017 no sistema público brasileiro. O projeto é voltado a minorias sexuais e de gênero com idade de 18 a 30 anos, às quais são apresentadas e oferecidas as modalidades de PrEP (injetável e oral diária) em seis centros de estudo localizados no Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus, Salvador, Florianópolis e Campinas.
Um trabalho formativo compreende uma fase de estudo que envolve entrevistas, pesquisas e outras formas de coleta de dados junto a profissionais de saúde e à comunidade para avaliar necessidades, barreiras e facilitadores para a implementação de novas intervenções. O trabalho formativo realizado pelo ImPrEP CAB Brasil incluiu a mobilização comunitária, o mapeamento de profissionais de saúde com experiência com a PrEP injetável, discussões focais em grupo e o aprimoramento de uma ferramenta educacional de saúde móvel (mHealth). Ao todo, 92 representantes das minorias de sexo e gênero e 20 profissionais de saúde foram incluídos nas consultas.
Dentre os fatores facilitadores investigados, foi avaliada a aceitabilidade de uma intervenção com lembrete de consulta por mensagens de texto por meio de WhatsApp. Para a mobilização comunitária, uma equipe composta por 34 lideranças das minorias colaborou na criação de um protótipo de mHealth e contribuiu para o planejamento de atividades de educação de pares.
Dentre as barreiras identificadas pelo trabalho formativo estão a longa duração das visitas clínicas, a necessidade de treinamento para profissionais de saúde e o estigma e discriminação contra pessoas que usam PrEP. As soluções propostas para agilizar as consultas incluíram a realização de testes rápidos de HIV ao invés de exame laboratorial e reforço na equipe de aconselhamento. Já os lembretes por WhatsApp e a ferramenta educacional tiveram alta aceitabilidade pelos grupos participantes, e são instrumentos promissores para apoiar a adesão à PrEP.
Segundo os autores do artigo, o trabalho formativo realizado pelo ImPrEP CAB Brasil gerou refinamentos importantes visando à decisão pela possível implementação da modalidade injetável da profilaxia via SUS. Esses resultados indicam o potencial do CAB-LA para ampliar o acesso às formas de prevenção do HIV de forma inclusiva e contextualizada.
*Autores do artigo:
Cristina Pimenta (1), Thiago Torres (1), Brenda Hoagland (1), Mirian Cohen (1), Claudio Mann (1), Cristina Jalil (1), Eduardo Carvalheira (1), Lucilene Freitas (1), Nilo Fernandes (1), Debora Castanheira (1), Marcos Benedetti (1), Julio Moreira (2), Keila Simpson (3), Roberta Trefiglio (1), Gabrielle O’Malley (4), Valdiléa Veloso (1) e Beatriz Grinsztejn (1).
(1) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.
(2) Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT, Rio de Janeiro, Brasil .
(3) Associação Nacional de Travestis e Transexuais, Salvador, Brasil.
(4) Departamento de Saúde Global Health, Escola de Medicina e Saúde Pública, Universidade de Seattle, EUA.
Link para o artigo: https://publichealth.jmir.org/2024/1/e60961