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Estigma relacionado ao HIV e adesão à terapia antirretroviral entre HSH brasileiros

O estigma relacionado ao HIV consiste em preconceitos, discriminações e atitudes negativas direcionados a pessoas que vivem com o vírus. Esse estigma pode se manifestar a partir de diversas fontes – familiares, amigos e comunidade em geral -, como também de formas institucionalizadas e estruturais, como no caso de serviços de saúde que oferecem tratamento inadequado ou diferenciado a essas pessoas. Além dessas opressões externas, por vezes o estigma relacionado ao HIV é internalizado pelos próprios indivíduos que vivem com o vírus. Tal internalização os afeta negativamente em termos de saúde mental e física, chegando a comprometer o tratamento com antirretrovirais (TARV). 

No Brasil, cerca de 35% das pessoas que vivem com HIV apresentam baixa adesão à TARV. No entanto, ainda não há estudos suficientes no país que identifiquem a associação entre a adesão insuficiente e o estigma relacionado ao HIV. Análise publicada na edição de agosto de 2024 do periódico Plos One buscou preencher essa lacuna, investigando o efeito do estigma relacionado ao HIV sobre a adesão à TARV entre gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) brasileiros a partir de um questionário on-line. O artigo foi escrito por especialistas da Fiocruz/RJ, a saber: Victor Matos (Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca), Thiago Torres e Paula Luz (Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas).

Os voluntários foram recrutados de fevereiro a março de 2020 por meio de anúncios no aplicativo de encontros Hornet. O questionário consistiu em 118 perguntas que avaliavam a adesão à TARV e os estigmas relacionados ao HIV e suas possíveis associações. Quatro diferentes dimensões do estigma relacionado ao vírus foram avaliadas: estigma personalizado relacionado ao HIV, preocupações com atitudes públicas, autoimagem negativa e preocupações com a divulgação do status de HIV. 

No total, 1.719 HSH vivendo com HIV foram incluídos no estudo, com 70% demonstrando adesão ao tratamento. A análise não encontrou associação direta entre preocupações com atitudes públicas e o estigma personalizado relacionado ao HIV com a adesão à TARV, mas apenas como efeito indireto, já que tanto as preocupações com atitudes públicas, quanto o estigma personalizado relacionado ao HIV estavam associados à autoimagem negativa. Essa, por sua vez, demonstrou associação direta com a baixa adesão à TARV. Além disso, a autoimagem negativa esteve associada ao uso do álcool e outras substâncias, o que, por sua vez, contribuiu para um efeito negativo na adesão à TARV. 

Os autores destacam a necessidade de intervenções multidimensionais para eliminar o estigma relacionado ao HIV em seus níveis individuais e sociais. No nível individual, por meio de intervenções e apoio psicoterapêuticos para melhorar a autoimagem das pessoas vivendo com o vírus; no social, por intermédio de políticas públicas que visem desmontar o estigma estrutural direcionado a essas pessoas, o que envolve campanhas de conscientização para o grande público e capacitação de profissionais de saúde. 

Link para o artigo: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0308443

* Autores do artigo: 

Victor Matos (1), Thiago Torres (2) e Paula Luz (2). 

(1) Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.

(2) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.