Saúde de pessoas mais velhas com HIV: fragilidade e qualidade de vida antes e depois da pandemia de Covid-19
A terapia antirretroviral aumentou significativamente a expectativa de vida de pessoas vivendo com HIV. No entanto, as pessoas mais velhas que vivem com o vírus (≥50 anos) tendem a apresentar comorbidades e outras fragilidades de saúde que afetam sua qualidade de vida. Ainda que tal condição afete, também, a população mais velha em geral, entender o impacto específico do envelhecimento entre essas pessoas é essencial para subsidiar novas estratégias de prevenção e promoção da saúde.
Um estudo avaliou a fragilidade e a qualidade de vida relacionada à saúde de pessoas mais velhas que vivem com HIV, investigando, ainda, se a pandemia de Covid-19 ofereceu alguma melhora ou piora da saúde dessa população. O artigo foi publicado na edição de fevereiro de 2024 de The Brazilian Journal of Infectious Diseases, com autoria de Thiago Torres e outros pesquisadores do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, no Rio de Janeiro. O estudo foi conduzido com pacientes que faziam tratamento antirretroviral no instituto, tendo considerado dois períodos para a coleta de dados: antes (de março de 2019 a março de 2020) e após a pandemia de Covid-19 (de julho de 2021 a maio de 2022).
A condição de saúde de pessoas mais velhas com HIV foi avaliada a partir de dois parâmetros: fragilidade e qualidade de vida relacionada à saúde. O artigo entendeu fragilidade como o declínio fisiológico ao longo do tempo, o que envolve aspectos físicos, cognitivos, sociais, emocionais e econômicos. A fragilidade foi avaliada a partir de cinco critérios: perda de peso não intencional, exaustão autodeclarada, fraqueza, baixa velocidade de caminhada e baixa atividade física.
A condição de fragilidade foi definida como o fato de o voluntário apresentar três ou mais desses critérios, enquanto a pré-fragilidade consistiu em apresentar dois ou um dos critérios, e a não fragilidade como não apresentar qualquer dos critérios. Já a qualidade de vida relacionada à saúde foi entendida como a dimensão do impacto da doença e do tratamento antirretroviral na capacidade de uma pessoa realizar tarefas diárias, sendo avaliada a partir de um questionário.
No total, foram incluídas 250 pessoas na análise: 109 (43,6%) antes e 141 (56,4%) depois da pandemia, com média de idade de 60 anos. A maioria se identificou como homem cisgênero (152 pessoas, 60,8%), pardos/negros (146, 58,4%), com ensino médio completo ou menos (181, 72,7%) e baixa renda (132, 52,8%).
O estudo apontou baixa prevalência de fragilidade, mostrando, no entanto, alta prevalência de pré-fragilidade entre a população analisada: 9,2% e 61,6%, respectivamente. Já as pontuações relativas à qualidade de vida relacionada à saúde foram mais baixas entre os participantes com fragilidade em comparação aos sem fragilidade e pré-fragilidade. Não foram identificas alterações significativas na comparação entre os períodos pré e pós-pandemia.
Os autores do artigo afirmam que a avaliação de fragilidade e qualidade de vida relacionada à saúde deveria ser incorporada à prática clínica para as pessoas mais velhas que vivem com HIV, bem como a adoção de programas de prevenção no sistema público de saúde.
Link para o artigo:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1413867024000060
* Autores do artigo:
Thiago Torres, Jovanice Jesus, Daniel Arabe, Lusiele Guaraldo, Fabião Meque, Flavia Lessa, Lívia Facchinetti , Rita Estrela, Valdiléa Veloso, Beatriz Grinsztejn e Sandra Cardoso, todos do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.