HIV, IST e Outros

Segurança e imunogenicidade da vacina de febre amarela entre pessoas vivendo com HIV

A febre amarela é uma doença transmitida por mosquitos, de forma geral associada às regiões tropicais da América do Sul e da África. Juntamente com outras doenças e infecções como o HIV, a febre amarela é endêmica em muitas dessas áreas, o que exige esforços contínuos de tratamento e prevenção.

A estratégia mais eficaz contra essa doença consiste em uma dose única de vacina atenuada, que contém cepas e subcepas do vírus causador da febre amarela. Apesar de não provocar efeitos adversos na maioria da população e ser eficaz em cerca de 95% dos adultos vacinados, dados específicos sobre a vacina de febre amarela em pessoas que vivem com HIV ainda são escassos. A maioria dos estudos sobre o tema foi realizada em países de alta renda, como França e Suíça, não refletindo os efeitos sobre a população afetada nas áreas endêmicas de febre amarela e HIV, geralmente de países de baixa e média renda, como o Brasil.

Para preencher essa lacuna, um artigo publicado no periódico AIDS, em dezembro de 2023, investigou a segurança e a imunogenicidade* da vacina de febre amarela entre pessoas com HIV no Rio de Janeiro. O estudo foi conduzido por Edwiges Motta, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, e outros autores da mesma fundação**.

De maio de 2017 a maio de 2018, foram incluídos 300 voluntários – 218 pessoas vivendo com HIV e 82 HIV negativas para o grupo de controle. Foram elegíveis indivíduos com idades entre 18 e 59 anos, sem histórico de vacinação prévia contra a febre amarela ou infecção pela doença e com contagem de células CD4+ ≥ 200.

No início do estudo, os participantes com HIV faziam uso da terapia antirretroviral (TARV), com carga viral indetectável e contagem de células CD4+ mediana de 630 células/ml. Nos dias 1 e 30 foram avaliados os títulos de anticorpos neutralizantes para febre amarela (dado clínico que expressa a resposta imune do organismo à vacina). Os resultados demonstraram a segurança de não haver efeito adverso grave da vacina entre essas pessoas. No entanto, em comparação com o grupo de controle, nos testes realizados após um ano da aplicação, foi observada uma diminuição maior em níveis de neutralização de anticorpos contra a febre amarela entre os indivíduos vivendo com HIV. 

O estudo conclui que a imunogenicidade da vacina contra febre amarela é prejudicada em pessoas com HIV em uso da TARV, especialmente entre aquelas com carga viral elevada do vírus e baixa contagem de células CD4+ no momento da vacinação.

Os autores destacam que o período de um ano de acompanhamento dos participantes não permitiu fornecer evidências sobre a imunogenicidade da vacina de febre amarela a longo prazo, apesar de uma tendência à diminuição na sua eficácia ter sido apontada. Novos estudos são, dessa forma, necessários para complementar os resultados.

Link para o artigo: https://journals.lww.com/aidsonline/fulltext/2023/12010/immunogenicity_and_reactogenicity_of_yellow_fever.7.aspx

* Imunogenicidade = capacidade de uma vacina gerar resposta imune e fazer com que um indivíduo fique protegido contra determinada doença.

** Autores do estudo:

Edwiges Motta (1), Luiz Antonio Camacho (2), Marcelo Cunha (2), Ana de Filippis (3), Sheila Lima (4), Marcellus Costa (1), Luciana Pedro (1), Sandra Cardoso (1), Fernanda  Cortes (5), Carmem Giacoia-Gripp (5), Michelle Morata (1), Sandro Nazer (1), Ronaldo Moreira (1,2), Marta Souza (6), Ygara Mendes (6), Adriana Azevedo (7), Nathalia Alvez (7), Beatriz Grinsztejn (1) e Lara Coelho (1).

(1) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro

(2) Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro

(3) Laboratório de Flavivírus, Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro

(4) Departamento de Desenvolvimento Experimental e Pré-Clínico, Bio-Manguinhos, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro

(5) Laboratório de Aids e Imunologia Molecular, Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro

(6) Laboratório de Tecnologia Virológica, Bio-Manguinhos, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro

(7) Laboratório de Análise Imunomolecular, Bio-Manguinhos, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro