Resultados do estudo REPRIEVE: pitavastatina previne doenças cardiovasculares em pessoas com HIV
A incidência de doenças cardiovasculares, como derrame e infarto, pode ser até duas vezes maior entre pessoas que vivem com HIV em relação a indivíduos não infectados pelo vírus. Ainda que se reconhecesse essa associação, recomendações específicas para minimizar o risco e aumentar a saúde cardiovascular entre pessoas com HIV ainda não haviam sido oferecidas até a realização do estudo REPRIEVE (Randomized Trialto Prevent Vascular Events in HIV).
Tal estudo buscou determinar se o uso de estatina – grupo de medicamentos utilizados para reduzir os níveis de colesterol no sangue – poderia reduzir as chances de eventos cardiovasculares entre pessoas vivendo com HIV. A pitavastatina foi escolhida pela análise por não interagir com as drogas utilizadas pelas terapias antirretrovirais (TARV), ao contrário de outros tipos de estatina, como a sinvastatina e a atorvastatina.
Abrangendo o período de março de 2015 a julho de 2019, o estudo incluiu 7.769 voluntários que faziam uso da TARV, randomizados em dois grupos: os que receberam pitavastatina em dose diária de 4mg (3.888 participantes) e outro que recebeu placebo (3.881 participantes). Os indivíduos eram de 145 lugares em 12 países, inclusive o Brasil, com risco baixo a moderado de desenvolver doenças cardiovasculares e idade média de 50 anos. A edição de julho do periódico The New England Journal of Medicine, de 2023, publicou os resultados do REPRIEVE em um artigo conduzido por Steven Grinspoon, da Harvard Medical School, e outros pesquisadores.
Após um acompanhamento médio de cinco anos, o REPRIEVE comprovou a eficácia da pitavastatina na prevenção a doenças cardiovasculares em pessoas vivendo com HIV. A incidência de eventos desse tipo entre o grupo que tomou o medicamento foi de 4.81 pessoas ao ano, enquanto para o grupo que recebeu placebo foi de 7.32 pessoas ao ano, número consideravelmente maior.
Houve, no entanto, alguns efeitos adversos para os participantes que receberam pitavastatina, que apresentaram maior propensão a desenvolver diabetes mellittus e sintomas relacionados a problemas musculares, embora não em número significativamente maiordo que o grupo randomizado com placebo.
Importante ressaltar que as evidências apontadas pelo estudo propiciaram a inclusão da pitavastatina nas políticas públicas de diversos países em relação ao protocolo de tratamento para pessoas com HIV e quadro de colesterol alto.
Link para o artigo: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2304146