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Possíveis danos relacionados ao uso de autoteste de HIV entre HSH na Inglaterra e País de Gales

O autoteste de HIV é uma ferramenta essencial na prevenção combinada contra o HIV. O receio de danos causados pelo seu uso, no entanto, representa possíveis barreiras para a sua ampla utilização. Esses danos se referem à não eficácia dos autotestes (resultados falso positivos ou negativos), mas incluem, também, efeitos negativos sobre o bem-estar, impactos em relacionamentos (como término ou violência do parceiro e desentendimentos familiares) ou pressão externa para realizá-los.

Um artigo publicado no periódico Sexually Transmitted Infections, em agosto de 2023, investigou a incidência de danos entre voluntários de um estudo com autoteste de HIV, o SELPHI. Conduzido por T. Charles Witzel, da Universidade College London, a análise contou com a participação de 10.111 gays, bissexuais e outros homens cis e trans que fazem sexo com homens (HSH) da Inglaterra e País de Gales.

Os participantes foram recrutados on-line por meio de aplicativos de encontros sexuais e redes sociais de fevereiro de 2017 a março de 2018. O SELPHI contou com duas randomizações. Na randomização A, os pesquisados foram divididos em dois grupos: os que receberam o autoteste de HIV no início da participação e outro que não recebeu. Já na randomização B, os participantes que receberam o autoteste foram novamente divididos entre aqueles que receberam novos autotestes a cada três meses e aqueles que não receberam. Ao final do período do estudo, todos receberam um questionário relativo a possíveis danos. Entrevistas também foram realizadas com uma amostragem dos participantes que relataram danos.

Ao final do estudo, 3.691 completaram o questionário final, com 138 (4%) relatando algum dano relacionado ao uso do autoteste. Dez voluntários informaram impacto no relacionamento com parceiros e 37 no bem-estar. Por sua vez, 34 participantes tiveram resultado falso positivo com o autoteste.

Os números relatados de danos foram considerados baixos. As entrevistas revelaram, ainda, que tais danos nem sempre poderiam ser atribuídos apenas ao autoteste, mas ao contexto em que os participantes estavam inseridos. Um dos entrevistados, que terminou  a relação após realizar o autoteste, por exemplo, disse ter consciência que o relacionamento terminaria em breve, necessitando apenas de um elemento catalisador. Já os falsos positivos, que concernem à eficácia do teste, embora seja um ponto de preocupação, não apresentaram número significativamente maior em relação à margem de erro de outros testes de HIV.

Os autores consideram que tais resultados não devem representar uma barreira à ampla utilização do autoteste de HIV e que os eventos adversos podem ser atenuados pela adoção de estratégias de suporte psicossocial aos usuários de autoteste.

Artigo disponível em: https://sti.bmj.com/content/99/8/534.citation-tools