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Prevenção combinada e jovens foi tema de live do ImPrEP CAB Brasil no Dia Mundial de Luta contra a Aids

Para marcar o Dia Mundial de Luta contra a Aids, o ImPrEP CAB Brasil realizou, em 28 de novembro de 2023, via sua página institucional no Facebook (@imprepbrasil), a live “O que sabemos sobre jovens, HIV e prevenção combinada”. A reunião virtual contou com um convidado especial: Paulo Jorge Vianna, sanitarista, bacharel em saúde coletiva e ativista do Grupo Gapa-BA. A mediação ficou a cargo de Julio Moreira e Keila Simpson, coordenadores comunitários do projeto para as populações HSH e trans, respectivamente, além de Luciana Kamel, assessora de educação comunitária do ImPrEP CAB Brasil.

O evento começou com Luciana atualizando os números da epidemia de HIV no Brasil e ressaltando a importância da prevenção combinada não só no combate ao vírus, como também na proteção de outras infecções sexualmente transmissíveis (IST). Em sua primeira intervenção, Paulo explicou: “Infelizmente, o tema saúde sexual ainda é um tabu na nossa sociedade. Enquanto isso não mudar, será difícil eliminar todo esse estigma relacionado à profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV. A maior parte da nossa população não conhece a profilaxia e muitos dos que a conhecem não se sentem motivados a usá-la”.

Julio prosseguiu lamentado que o poder público não desenvolva com eficiência campanhas de prevenção voltadas para o público jovem. De acordo com ele, são as organizações da sociedade civil que, muitas vezes, acabam cumprindo essa função. Luciana comentou: “Realmente houve um corte de investimentos por parte do governo anterior. O material que, na maioria das vezes, já era antiquado e não se comunicava bem com os jovens, deixou de ser produzido. Esperamos que, a partir de agora, novas campanhas sejam realizadas, com uma linguagem mais moderna e dinâmica, pois só assim conseguiremos sensibilizar esse público”.

Paulo complementou: “Com os jovens, a mensagem tem que ser direta, não podem existir rodeios nem barreiras. Muitas vezes, os profissionais de saúde não dominam essa linguagem. É preciso um investimento urgente na capacitação dessas pessoas. Além disso, enquanto a saúde sexual e a saúde reprodutiva não caminharem juntas, os jovens terão maior acesso aos preservativos, com acesso restrito à PrEP. Essas duas ferramentas são complementares, não excludentes”.

População trans

Keila deu prosseguimento à reunião pedindo atenção especial à população de mulheres trans. “Esse é o público mais atingido pelo HIV no país e eu não vejo nenhuma ação concreta por parte dos governos para nos proteger do vírus e das IST. A sociedade civil ainda faz alguma coisa, mas não basta. Precisamos difundir a PrEP para essas pessoas, pois o preservativo como única ferramenta de prevenção já se mostrou insuficiente”.

Paulo concordou: “O trabalho das organizações da sociedade civil é fundamental, mas sem a ajuda do poder público não conseguimos cumprir todas as demandas. Realmente, as populações trans e HSH são as mais vulneráveis ao HIV. Precisamos conscientizar esse público sobra a importância da prevenção combinada como um todo, não só do preservativo. Hoje, nosso papel é trabalhar e cobrar uma postura proativa dos governantes”.

A reunião continuou com Julio reforçando a importância da prevenção combinada: “Nós temos uma grande responsabilidade na disseminação dessas ferramentas. A PrEP é poderosa, mas não substitui nenhuma outra. Vejo muita gente que usa a profilaxia e acha que está liberada para fazer sexo sem preservativo ou praticar chemsex (sexo químico) sem proteção. Não é assim que funciona. As ferramentas se complementam. Resultados positivos só vão aparecer quando todas forem difundidas sem distinção”.

O encontro já se encaminhava para o fim quando Luciana pediu para Paulo falar sobre os desafios do Grupo Gapa/BA. “Atualmente, os nossos principais desafios são vencer as barreiras comunicacionais existentes e produzir materiais que falem de maneira direta com os jovens. São essas pessoas que têm que estar na centralidade do debate”.

Paulo finalizou: “Tenho o sonho de ver o debate sobre saúde sexual ganhar as salas de aula das escolas de todo o Brasil. Sei que ainda é um sonho distante, já que vivemos em uma sociedade cada vez mais conservadora, que vê o sexo como algo impróprio. Mas vou continuar trabalhando, pois são sonhos que me fazem lutar pelas causas em que acredito”.