Live ImPrEP CAB Brasil debate os impactos do conservadorismo na população LGBTI+
Com objetivo de abordar questões que impactam na garantia dos direitos fundamentais da população LGBTI+, em especial em relação a cuidados de saúde sexual e prevenção do HIV/aids, o ImPrEP CAB Brasil realizou, no dia 12 de julho de 2023, a live Conservadorismo X Direitos e Saúde LGBTI+.
O bate-papo virtual contou com as presenças de Beatriz Grinsztejn, pesquisadora principal do ImPrEP CAB Brasil, Claudio Nascimento, presidente do Grupo Arco-Íris, e Jaqueline Gomes de Jesus, professora e pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fiocruz. A mediação ficou a cargo de Julio Moreira e Keila Simpson, coordenadores comunitários do projeto para as populações HSH e trans, respectivamente, e de Luciana Kamel, assessora de educação comunitária do ImPrEP CAB Brasil.
O encontro começou com Julio e Keila enumerando as várias conquistas alcançadas pela comunidade nas últimas décadas. Coube à Jaqueline iniciar os debates: “Na década de 1990, uma pessoa LGBTI+ não podia sequer pronunciar a palavra sexo em público. Hoje, alguns já conseguem enxergar uma mulher trans negra, como eu, dando aula em uma universidade. Ainda somos vítimas de muita violência, mas os avanços são inquestionáveis e devem ser celebrados”. A professora lembrou que, atualmente, a comunidade LGBTI+ tem representação em vários setores da sociedade, inclusive, no Congresso Nacional.
Beatriz concordou. “Como pesquisadora desde o início de minha vida profissional, posso afirmar que os avanços no campo da saúde e da prevenção foram enormes, inicialmente com a introdução dos medicamentos antirretrovirais e agora com a PrEP”. Mas a pesquisadora fez um alerta: “Infelizmente, estamos atravessando um período bastante perigoso com o avanço de um conservadorismo extremista, não só no Brasil, como em boa parte do mundo. Muitas de nossas conquistas estão sendo ameaçadas, principalmente no contexto da saúde pública”.
Para Claudio, “A verdade é que não adianta só posar para fotografia com a bandeira do arco-íris como muitos fazem. É preciso que homens gays e mulheres trans ocupem cargos de direção em grandes empresas. Isso não aconteceu no passado e não acontece hoje. Lamento que nossas conquistas estejam ameaçadas por toda essa onda conservadora, mas sigo olhando para frente. Quero que as pessoas da nossa comunidade tenham os mesmos diretos que qualquer outro cidadão”. Jaqueline lembrou que, no ambiente de pesquisa, a discriminação com gays e mulheres trans também existe. “Muitos me olham com certo desprezo, um olhar de estranhamento. Mas respondo com o meu trabalho”.
Luta contra a fome e pela saúde pública
Beatriz deu prosseguimento ao debate: “Precisamos investir em questões estruturais e fundamentais, como os direitos humanos e a luta contra a homofobia, a transfobia e, principalmente, a fome. Como médica, sei que é muito difícil falar em controle da epidemia de HIV/aids sem antes resolver o problema da insegurança alimentar. Para a pessoa que não tem o que comer, qualquer outro problema se torna insignificante”. Jaqueline ressaltou: “Neste momento em que o conservadorismo e o neoliberalismo tanto nos ameaçam, precisamos, mais do que nunca, valorizar o SUS. Apesar de todo o estigma e o preconceito existentes, a saúde pública ainda é nossa principal trincheira contra inimigos tão poderosos”.
Claudio complementou: “Muitas vezes, nos procuram no Grupo Arco-Íris para pedir um par de sapatos ou algum alimento. Como a gente fala sobre prevenção ou cuidados de saúde com essa pessoa? Impossível. É triste, mas essa é a lógica perversa do neoliberalismo, cada vez mais enraizada nos conservadores radicais”. Beatriz fez um adendo: “Felizmente, conseguimos eleger um governo de viés mais progressista e democrático no Brasil. O ar começa a ficar novamente respirável, mas as ameaças ainda estão presentes”.
Nas considerações finais, Luciana ressaltou a importância do evento: “Foi um encontro riquíssimo. Quando pensamos no tema dessa live, sabíamos que seria bom, mas não imaginei que fosse tanto. Tive a oportunidade de aprender muito com todos vocês”. Em seguida, foi a vez de Claudio. “Termino com uma mensagem de esperança. Quero festejar que, depois de quatro anos de obscurantismo, conseguimos eleger um governo civilizado e democrático. Sei que ainda temos um longo caminho a percorrer, mas já é o primeiro passo para recuperar a dignidade perdida”. Jaqueline agradeceu o convite: “Confesso que sempre fui um pouco crítica aos encontros virtuais, mas este me surpreendeu positivamente. Foi ótimo”.
Coube a Beatriz encerrar o encontro: “Como acontece em todas as lives conduzidas pelo Julio e pela Keila, saio daqui ainda mais realizada, pessoal e profissionalmente. É bom saber que tenho pessoas tão incríveis como vocês ao meu lado nessa jornada tão árdua. Os próximos anos serão de muito trabalho, mas momentos como este servem para nos fortalecer”.