Encontro Regional da IAS debate implementação da PrEP injetável na América Latina e no Caribe
Realizado virtualmente em 10 de julho de 2023, o mais recente Encontro Regional dos Membros da International AIDS Society (IAS) – Seção América Latina e Caribe abordou os avanços da implementação da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV na modalidade injetável de longa duração na região. O webinar contou com a participação de pesquisadores e especialistas, incluindo integrantes do ImPrEP CAB Brasil, e abrangeu temas como panorama atual da PrEP, lições aprendidas na primeira fase do projeto ImPrEP (modalidade oral) e ações comunitárias locais.
Após as boas-vindas dadas pela presidente da IAS e pesquisadora principal do ImPrEP CAB Brasil, Beatriz Grinsztejn, a reunião foi iniciada pela assessora regional de prevenção de HIV da Organização Pan-Americana de Saúde, Hortencia Peralta, que apresentou um panorama geral da PrEP na América Latina e no Caribe. Exibiu dados a respeito de novas infecções pelo vírus e falou sobre os desafios, inclusive econômicos, para a implementação das modalidades oral e injetável de longa duração nos países. A assessora finalizou sua explanação mostrando estatísticas atualizadas dos usuários de PrEP na região e ressaltando os principais avanços, em especial em relação aos países que começaram a implementar a profilaxia nos últimos anos.
Em seguida, Valdiléa Veloso, co-pesquisadora principal do ImPrEP CAB Brasil, discorreu sobre os resultados da primeira etapa do projeto ImPrEP, desenvolvido de 2018 a 2021, focado na oferta da PrEP oral para gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis e mulheres transexuais do Brasil, Peru e México. De acordo com a pesquisadora, o objetivo principal do estudo foi reduzir a incidência de HIV nos três países por meio da implementação da profilaxia. Valdiléa apresentou dados do estudo de demonstração de PrEP oral, que contou com a participação de 9.509 voluntários, destacando a descontinuidade precoce da profilaxia, mais elevada no Peru, e a incidência de HIV, maior nos jovens de 18 a 24 anos.
Antes de finalizar sua apresentação, a pesquisadora citou que a alta prevalência de infecções sexualmente transmissíveis, como sífilis, clamídia e gonorreia, registrada no início do estudo, não aumentou no decorrer do uso de PrEP, e mostrou dados obtidos em duas enquetes realizadas com HSH, ocorridas em 2018 e 2021 (esta última também contando com participantes trans). Informou que o conhecimento sobre PrEP aumentou nos três países, mas a disposição de usá-la cresceu somente no Brasil, e encerrou falando sobre as lições aprendidas: “A implementação da oferta de PrEP no mesmo dia na região é viável e o conjunto de evidências científicas geradas pelo ImPrEP é fundamental para o processo de introdução da implementação nos demais países”.
Educação comunitária
Na parte final da reunião, Brenda Crabtree-Ramirez, pesquisadora sênior da Clínica de HIV do Departamento de Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Ciências Médicas e NutriçãoSalvador Zubirán, no México, comandou uma mesa de debates sobre como alavancar a agenda comunitária de PrEP na América Latina e no Caribe. Participaram Julio Moreira, coordenador comunitário do ImPrEP CAB Brasil para a população HSH, Javier Hourcade, membro do Conselho do Consórcio Internacional de Organizações de Serviços de AIDS, e Nadir Cardozo, responsável pela participação comunitária da Fundação Huésped, da Argentina.
Nadir informou que a profilaxia vem sendo introduzida em todas as províncias da Argentina, mas que esse processo encontra grandes dificuldades nas cidades interioranas. Javier ressaltou que a PrEP é uma das ferramentas mais importantes para a prevenção do HIV e que a sua implementação deve ser prioritária entre as populações marginalizadas. Julio destacou o problema educacional como um dos principais entraves para a penetração da profilaxia no Brasil, lembrando que o país ainda conta com um número elevado de analfabetos e pessoas com baixo nível de escolaridade.
O aumento da retenção em PrEP foi o último tema abordado. Nadir afirmou que ter um Estado presente e atuante é fundamental, propondo a criação de uma legislação especial que contemple a população de mulheres trans da Argentina. Coube a Julio encerrar a reunião enfatizando a importância dos educadores de pares para a adesão à profilaxia e endossando Nadir no que diz respeito à criação de políticas públicas para as populações-chave do projeto.