Espaço HSH PrEP, HSH e trans PrEP: temas gerais

Impactos da adesão à PrEP injetável entre HSH da cidade de Atlanta (EUA)

O estudo HPTN 083 demonstrou preferência e eficácia maiores pelo cabotegravir injetável de longa duração (CAB-LA) quando comparado ao uso diário de comprimidos de tenofovir e entricitabina (TDF/FTC) como forma de profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV. Tal resultado se deve especialmente ao fato do CAB-LA resolver alguns dos problemas de adesão associados à PrEP oral, em especial entre gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) mais jovens, a faixa etária que atualmente apresenta as maiores taxas de novas infecções pelo vírus.

A par dos resultados positivos desse estudo controlado, outras análises buscam prever os impactos do uso do CAB-LA em situações do mundo real junto a esse público-alvo, visando fundamentar a adesão a novos programas de enfrentamento ao HIV.

Um desses estudos, conduzido por Kate Mitchell, do Imperial College London, e Beatriz Grinsztejn, do INI/Fiocruz, entre outros colaboradores*, e publicado na edição de janeiro de 2023 do periódico The Lancet Regional Health – Americas, usou modelos matemáticos para prever impactos do CAB-LA como método preferencial de PrEP entre HSH da cidade de Atlanta, na Geórgia (EUA). Essa cidade foi escolhida por ser um dos locais no país com maior prevalência de HIV. Dados demográficos sobre a população de HSH de Atlanta e da prevalência do vírus na região foram retirados da literatura disponível e dos arquivos do National HIV Behavioural Surveillance.

O artigo criou modelos comparativos entre cenários possíveis com o uso do TDF/FTCou do CAB-LA. O período incluído nas projeções foi de cinco anos, de 2022 a 2026. Os cenários avaliados foram os seguintes:

(0) Sem uso da PrEP: nesse cenário hipotético, nenhum HSH faz uso da profilaxia;

(1) Manutenção da PrEP: todos os usuários de TDF/FTC continuam a tomar a profilaxia nessa modalidade;

(2) Troca de modalidade de PrEP: todos os HSH tomando TDF/FTC passam a fazer uso do CAB-LA;

(3) Troca de modalidade de PrEP e inclusão de novos usuários: além da mudança do TDF/FTC para o CAB-LA, há um aumento de 10% ou 20% no número de novos usuários da profilaxia com o CAB-LA.

Os cenários 1, 2 e 3 foram comparados em relação ao não uso da PrEP por HSH (cenário 0) para tentar determinar quantas novas infecções de HIV seriam evitadas. Para os cenários 2 e 3, também foi comparada a quantidade de novas infecções evitadas em razão da troca do TDF/FTC pelo CAB-LA.

Os principais resultados dos modelos preditivos foram:

– 36% de infecções evitadas com a manutenção do TDF/FTC;

– 45% de infecções evitadas caso os usuários mudassem para o CAB-LA, bem como de 12% a mais de infecções evitadas com o CAB-LA em relação ao TDF/FTC;

– trocando o método de PrEP e expandindo o número de novos usuários em 20%, alcançou-se a projeção de 30% a mais de novas infecções evitadas com o CAB-LA do que com o TDF/FTC.

Os autores do artigo avaliaram os resultados ainda em relação à iniciativa do programa Ending the HIV Pandemic (Acabando com a Pandemia de HIV), que prevê como meta a diminuição de novas infecções nos Estados Unidos em 75% até 2025 e em 90% até 2030. Apesar da significativa contribuição do CAB-LA, o artigo aponta que atender à meta do programa demandaria que 73% dos HSH não infectados por HIV de Atlanta estivessem usando o CAB-LA até 2025 e 93% até 2030 – esses últimos números foram considerados irreais.

Link para o artigo:   https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2667193X22002332?via%3Dihub

* Autores do artigo:

Kate Mitchell (1,2), Marie-Claude Boily (1,2), Brett Hanscom (3), Mia Moore (3), Jeffery Todd (4), Gabriela Paz-Bailey (5), Cyprian Wejnert (4), Albert Liu (5, 6), Deborah  Donnell (3), Beatriz Grinsztejn (8), Raphael Landovitz (9,10) e Dobromir Dimitrovc (3).

(1) MRC Centre for Global Infectious Disease Analysis, School of Public Health, Imperial College London, Londres, Reino Unido

(2) HIV Prevention Trials Network Modelling Centre, Imperial College London, Londres, Reino Unido           
(3) Vaccine and Infectious Disease Division, Fred Hutchinson Cancer Center, Seattle, EUA

(4) Centers for Disease Control and Prevention, Atlanta, EUA

(5) Division of Vector-Borne Diseases, Centers for Disease Control and Prevention, San Juan, Porto Rico

(6) Bridge HIV, Population Health Division, San Francisco Department of Public Health, São Francisco, EUA

(7) Department of Medicine, University of California San Francisco, São Francisco, EUA      

(8) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil

(9) Center for Clinical AIDS Research and Education, University of California Los Angeles, Los Angeles, EUA

(10) Division of Infectious Diseases, David Geffen School of Medicine at UCLA, Los Angeles, EUA