HIV, IST e Outros PrEP: temas gerais

Caminhos para vencer desigualdades na prevenção e tratamento do HIV em países de baixa e média renda

Mesmo com muitos avanços, o HIV permanece como uma questão de saúde global. Por meio das profilaxias pré e pós-exposição (PrEP e PEP), a prevenção ao vírus deu um grande salto nos últimos anos, o que, aliado ao sucesso dos tratamentos com antirretrovirais, cria um cenário promissor. Diversos fatores, no entanto, atuam como barreira de acesso a esses avanços, como a viabilidade de países de baixa e média renda responderem da forma adequada à epidemia. Ainda assim, grandes esforços e trabalhos são feitos nesses locais.

Um artigo, publicado no periódico Communications Medicine em dezembro de 2022, apresentou o relato de três pesquisadores da América Latina, da África Subsaariana e do Sudeste Asiático acerca dos desafios e êxitos em lidar com a prevenção e tratamento do HIV em seus contextos.

Representando a América Latina, Beatriz Grinsztejn, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, afirma que, mesmo com os avanços de prevenção e tratamento, o número de infecções anuais de HIV permanece estável, especialmente entre as populações mais vulneráveis, como gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens, travestis e mulheres trans.

Sobre a prevenção ao HIV, a pesquisadora aponta que, em 2020, apenas 10% dos usuários de PrEP de 77 países eram da América Latina. Ressaltando que a testagem de HIV ainda não é uma prática difundida, ela acrescenta que, apesar das conquistas de acesso a terapias antirretrovirais, cerca de um terço dos novos diagnósticos ocorre em estágios de infecção de HIV avançada, levando a um número elevado de mortes relacionadas à aids. 

“As vulnerabilidades enfrentadas pelas populações-chave, como estigma e discriminação, assédio sexual e físico, violência e outras violações de direitos humanos, prejudicam o acesso às opções de prevenção do HIV. É essencial compensar tais desigualdades que estão na raiz de alta vulnerabilidade ao vírus, baixa aceitabilidade e adesão a serviços de prevenção e tratamento”, complementa Beatriz.

John AlechenuIdoko, do Departamento de Medicina da Universidade de Jos e da Universidade Federal de Ciências da Saúde, na Nigéria, afirma: “Enormes progressos foram feitos na resposta ao HIV desde o início da pandemia. Poucas pessoas estão morrendo de aids e novas infecções estão em declínio. No entanto, o progresso tem sido desigual em diferentes partes do mundo e em diferentes populações dentro de um mesmo país”.

O médico e pesquisador destaca como população mais vulnerável no contexto da África Subsaariana as mulheres jovens de 20 a 24 anos, com uma prevalência de HIV quatro vezes maior que a dos homens. Esse fato faz com que a transmissão vertical do vírus (da mãe para filho durante a gravidez) ainda seja um desafio a ser vencido. Ele comenta, ainda, que muitos países criminalizam relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo, trabalhadores do sexo e usuários de drogas, contribuindo para a estigmatização e a baixa testagem do HIV. Para ele, promover um acesso mais equânime à prevenção irá requerer o fortalecimento de ferramentas de prevenção, como a PrEP, e estimular a testagem.

Por sua vez, Nittaya Phanuphak, diretora do Instituto de Pesquisa e Inovação do HIV em Bangkok, Tailândia, ressalta que o Sudeste Asiático possui cerca de 66.200 novas infecções anuais, sendo os maiores números na Indonésia (28 mil) e nas Filipinas (17 mil). O uso da PrEP, por sua vez, varia enormemente em cada país, com maior quantidade de usuários na Tailândia (41.027) e no Vietnã (33.938), em dados de março de 2022.

Como fatores cruciais para o sucesso de programas de PrEP, ela afirma: “O primeiro componente é a disponibilidade de medicamentos genéricos da modalidade oral para reduzir custos; o segundo, o desenvolvimento de diretrizes nacionais para a profilaxia; e, o terceiro, o modelo de prestação de serviços de PrEP adotado em âmbito nacional”. Citando o caso da Tailândia e do Vietnã, a pesquisadora destaca como fator crucial para o êxito desses programas haver equipes de atendimento composta por pares das populações-chave. 

Link para o artigo: https://www.nature.com/articles/s43856-022-00224-2