HIV, IST e Outros

Conhecimento e disposição em usar o autoteste de HIV entre HSH do Brasil, Peru e México

O autoteste de HIV é uma ferramenta essencial na prevenção combinada do HIV. No entanto, seu uso permanece baixo, especialmente entre populações-chave. Não são muitos os estudos que avaliam a aceitabilidade e conhecimento do autoteste. Buscando colaborar para suprir essa lacuna, o artigo Conhecimento, disposição em usar e barreiras para o autoteste de HIV entre gays, bissexuais e outros homens cisgêneros que fazem sexo com homens (HSH): um estudo transversal on-line, assinado por Oliver Elorreaga, da Universidade Peruana Cayetano Heredia, e outros colaboradores*, analisou fatores associados ao uso do autoteste no contexto da América Latina entre esse público específico.

Os resultados da pesquisa foram publicados no periódico Global Public Health, em julho de 2022, cujos dados foram coletados entre março e junho de 2018 a partir de um questionário divulgado no Facebook ou no Hornet e Grindr, tendo envolvido participantes de diferentes lugares do Brasil, México e Peru. A partir dos resultados, os autores buscaram detectar semelhanças e diferenças nos resultados entre os três países.

Dentre os voluntários que acessaram e responderam ao questionário, 18.916 HSH foram elegíveis para o estudo — 59% do Brasil, 30% do México e 11% do Peru. Desse total, 20% declararam nunca haver se testado para HIV, com uma proporção maior no Peru, em que 24% nunca haviam se testado. Dentre os que nunca haviam feito o teste, o motivo mais apontado foi o medo de receber resultado positivo.

O conhecimento sobre o autoteste de HIV foi maior no Brasil, com 41%, seguido do México, 28% e Peru, 25%. Os resultados foram semelhantes ainda quanto à disposição em fazer o autoteste, com 40% no Brasil, e 36% e 32% para México e Peru, respectivamente. As maiores barreiras apontadas para a não disposição em utilizar o autoteste foram a dificuldade de lidar com um resultado positivo e a consideração de que ter aconselhamento com um profissional de saúde antes e depois do teste são essenciais.

Nos três países, houve ainda uma ligação nos voluntários entre o interesse de fazer o autoteste e possuir maiores rendas e tempo de escolaridade. Para aumentar o conhecimento e uso do autoteste, campanhas de divulgação e conscientização devem se centrar em alcançar HSH com menor renda e escolaridade, justamente os perfis com menores resultados.

Os autores do artigo sugerem o aconselhamento virtual como uma possível estratégia para aumentar a divulgação do autoteste e, assim, atenuar uma das barreiras apontadas pelos voluntários. Já países e locais em que o serviço público não oferece o autoteste devem levar esse fator em consideração, visto que os autotestes podem ter custos elevados, representando uma barreira crucial para sua não utilização.

Uma importante descoberta do estudo foi a de que os voluntários que demonstraram interesse em fazer o autoteste, em geral também afirmavam interesse em fazer uso da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV. Tal resultado sugere a eficácia de se incluir a disponibilização do autoteste como parte de programas de PrEP.

Link para o estudo: https://journals.plos.org/globalpublichealth/article?id=10.1371/journal.pgph.0000678

*Autores do artigo:

Oliver Elorreaga (1) Thiago Torres (2), Hamid Vega-Ramirez (3), Kelika
Konda (1), Brenda Hoagland (2), Marcos Benedetti (2), Cristina Pimenta (2), Dulce Diaz-Sosa (3), Rebeca Robles-Garcia (3), Beatriz Grinsztejn (2), Carlos Caceres (1) e Valdiléa Veloso (2)

  • Centro de Investigação Interdisciplinar em Sexualidade e Aids, da Universidade Peruana Cayetano Heredia, Lima, Peru
  •  Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fundacão Oswaldo Cruz,  Rio de Janeiro, Brasil
  • Instituto Nacional de Psiquiatria Ramon de la Fuente Muñiz, Cidade do México, México