Apenas seis injeções por ano podem prevenir o HIV. Mas quanto o mundo terá de pagar por elas?
Uma injeção a cada dois meses do antirretroviral cabotegravir é a forma mais eficaz de prevenção ao HIV já vista até momento. Torná-la acessível dependerá, em parte, de quantos fabricantes de medicamentos genéricos investirão em sua produção. Essas foram as conclusões preliminares de ensaios de modelagem matemática, não publicados, citados na 24ª Conferência Internacional de AIDS (AIDS 2022), realizada em Montreal, Canadá, de 29 de julho a 2 de agosto.
Os estudos clínicos realizados com gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens, mulheres trans e mulheres cis, descobriram que aqueles que receberam injeções de cabotegravir de longa duração como profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV tinham cerca de 80% menos probabilidade de infecção em comparação com os voluntários que tomavam um comprimido diário. A rápida implementação do medicamento na África Subsaariana, por exemplo, poderiareduzir em até 27% os novos casos nos próximos 50 anos. De acordo com as pesquisas, o acesso generalizado às injeções poderia salvar cerca de 75 mil vidas anualmente até 2070.
Embora a ViiV Healthcare, empresa farmacêutica fabricante do medicamento, esteja trabalhando para incentivar a produção de genéricos, é provável que ela tenha o monopólio do cabotegravir injetável nos próximos cinco anos. O preço oficial das injeções nos Estados Unidos, único país até agora a aprovar o uso da substância, gira em torno de US$ 22 mil por pessoa/ano.
A empresa já se comprometeu a oferecer o cabotegravir a 14 países envolvidos em ensaios clínicos do medicamento. Mas para distribuí-lo ao mundo, a farmacêutica terá que elevar a produção: “Contamos com uma cadeia de suprimentos muito robusta e expandiremos nosso volume de fabricação ao longo do tempo. Embora essa demanda ainda seja uma incógnita, estamos abertos a discutir com qualquer governo que queira adquirir o cabotegravir injetável de duração prolongada em forma de PrEP”, disse um porta-voz da ViiV Healthcare.
Em 28 de julho, a farmacêutica anunciou a assinatura de uma licença voluntária com o Pool de Patentes de Medicamentos, entidade que visa melhorar o acesso mundial a medicamentos prioritários, para permitir que 90 países de renda baixa e média e todas as nações do continente africano, exceto a Líbia, tenham acesso ao cabotegravir injetável genérico. No entanto, esse acordo exclui alguns países que participaram de ensaios clínicos, como o Brasil, e a Rússia, que atualmente abriga mais de um milhão de pessoas vivendo com HIV.
A ViiV Healthcare anunciou que, enquanto for a única a produzir o medicamento, vai oferecê-lo a um preço reduzido, mas ainda não determinado. Fontes afirmam que a farmacêutica discute um valor aproximado de US$ 240 dólarespor pessoa/ano – quase cinco vezes o custo das versões genéricas da profilaxia oral.
“A PrEP injetável de longa duração é uma ferramenta revolucionária para a prevenção do HIV, mas as diretrizes da Organização Mundial da Saúde para a sua implementação pouco significam enquanto as comunidades não tiverem acesso a esse medicamento por causa da ganância das empresas farmacêuticas”, afirmou Sibongile Tshabalala, presidente do Grupo de Defesa do HIV da África do Sul. De acordo com ela, entidades como a UNAIDS exigiram publicamente que a ViiV Healthcare se comprometa a reduzir o preço docabotegravir injetável para, no máximo,US$ 60 por pessoa/ano.
Fonte: site do Aidsmap, de 2 de agosto de 2022.