Homenagem a Alessandra Ramos marca a live ImPrEP sobre o Dia Internacional de Combate à LGBTIfobia
No dia 17 de maio passado, a live realizada pelo ImPrEP para ressaltar o Dia Internacional de Combate à LGBTIfobia ficará marcada não apenas por debater importantes questões relativas ao tema, mas também pela comovente homenagem a Alessandra Ramos, personalidade de destaque no cenário LGBTI+ nacional e internacional e coordenadora comunitária do projeto ImPrEP para a população trans, falecida em 15 de maio.
O encontro, que teve a mediação de Julio Moreira, coordenador comunitário do projeto para a população HSH, também contou com as presenças de Valdiléa Veloso, pesquisadora principal do ImPrEP, Beatriz Grinsztejn, co-pesquisadora principal do projeto, Bárbara Aires, ativista trans, Mikael Lopes, militante trans, e Alex Gomes, diretor-presidente do Grupo Pela Vidda/Niterói-RJ.
A live foi aberta com depoimentos emocionados acerca do trabalho e da luta de Alessandra em especial junto à comunidade trans. Valdiléa foi a primeira a falar: “Todos aprendemos muito com a Alessandra. Ela era uma unanimidade, uma pessoa muito querida. Temos que prosseguir na luta, pois tenho certeza que esse seria o desejo dela”. Beatriz completou: “Tenho um amor enorme por ela. Foi uma perda irreparável. Agora, só nos resta transformar o luto em luta”.
Bárbara também falou sobre Alessandra. “Era um ser de luz. Sempre esteve ao meu lado na militância. Foi uma honra conhecê-la”. Mikael afirmou: “Tenho certeza que ela está aqui com a gente. Sentirei muita falta dela, uma grande amiga que a vida me deu”. Alex finalizou: “Alessandra era uma pessoa feliz, com um diálogo muito bonito. Estava sempre disposta a ouvir. Guardarei comigo as boas lembranças, que foram muitas. Ela era um símbolo de luta”.
Avanços e lutas
Em seguida, Julio pediu para os convidados explicarem a importância da data. “É dia de lembrar que ainda lutamos por um atendimento humanizado na saúde. Batalhamos também para ter o nosso nome social respeitado. São tantas as nossas lutas, que não caberiam nessa live”, afirmou Bárbara. Mikael concordou. “A gente mal consegue utilizar os banheiros públicos, pois não respeitam a nossa identidade. Imagina o sofrimento para ter acesso aos serviços de saúde. Hoje, para a nossa comunidade, é só mais um dia de luta”. Alex preferiu lembrar a importância da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV. “Acho que poderíamos aproveitar a data e iniciar uma grande campanha de disseminação dessa tecnologia de prevenção. É triste constatar que muitos ainda não conhecem a profilaxia e outros têm enorme dificuldade de acessá-la. Que 17 de maio também fique marcado como o ‘dia da PrEP’”.
A reunião prosseguiu com Valdiléa explicando a relação da Fiocruz com o público LGBTI+. “Antes de tudo, fazemos questão de oferecer um serviço amigável. Mas acredito que um dos grandes acertos tenha sido a incorporação dos educadores e educadoras de pares à equipe ImPrEP. Com a entrada deles e delas, houve uma melhora considerável na adesão ao uso da PrEP e no acolhimento”. Beatriz destacou a nova modalidade da profilaxia, a PrEP injetável. “Estamos muito contentes com os resultados obtidos até o momento. Nossa expectativa é a melhor possível em relação ao projeto de demonstração a ser conduzido pelo ImPrEP visando a implementação da modalidade injetável pelo serviço público de saúde. A prevenção combinada ganhamais uma importante ferramenta no combate ao HIV”.
Julio levantou outro assunto importante: os estigmas enfrentados pela comunidade LGBTI+. Bárbara foi a primeira a opinar: “O desrespeito ainda é enorme. Às vezes, os serviços oferecidos são bons, mas o atendimento é péssimo. Não preciso ser tratada em um aparelho de saúde diferenciado só por ser mulher trans. Nossos corpos são iguais”. Mikael falou em seguida. “Existe um tabu quase instransponível no que diz respeito aos nossos corpos. Eu, por exemplo, necessito do atendimento de um ginecologista, mas não consigo acessar esse profissional por causa do meu nome social masculino. Os serviços públicos precisam ouvir as nossas necessidades. Chega de passar por tanta humilhação”.
A live se encaminhava para o final quando Julio levantou outra questão fundamental: como trabalhar para diminuir o preconceito? Beatriz foi enfática: “Temos que ter tolerância zero. Precisamos de respeito como qualquer outro ser humano precisa”. Valdiléa ressaltou ser inadmissível enfrentar situações constrangedoras por causa de preconceito: “Ninguém pode ser discriminado pela orientação sexual ou pela identidade de gênero. Temos que criminalizar a homofobia e a transfobia na prática. Chega de tanto estigma”.
No encerramento, Valdiléa destacou que as lives do ImPrEP disseminam a boa informação e mobilizam, em especial, a população LGBTI+: “Precisamos politizar a nossa comunidade para que todos lutem por seus direitos e por um mundo mais justo e fraterno”. Beatriz reforçou: “Esse é um trabalho fundamental no sentido de ampliar o alcance das informações em relação à prevenção do HIV”. Já Bárbara pontuou ser preciso celebrar os avanços obtidos, mas sem esquecer que a vida da população LGBTI+ é feita de luta: ”As mulheres trans exigem os mesmos direitos e oportunidades”. Alex emendou: “Estamos passando por um período de retrocessos, mas vamos seguir em frente de cabeça erguida. Nós, da sociedade civil, estaremos sempre atentos e fortes. Mikael finalizou: “Temos que lutar como se todos os dias fossem 17 de maio. Enfrentamos diariamente a homofobia, a transfobia e o racismo. Só com educação e conscientização vamos vencer essa batalha. Nós somos a sociedade e não podemos viver à margem dela”.