China: estudo recomenda implementação mais ampla da PrEP no país
A China é o país com o maior número de pessoas vivendo com HIV na região da Ásia-Pacífico, sendo responsável por 29% dos casos. A epidemia de HIV no país começou entre usuários de drogas injetáveis e receptores de hemoderivados, mas agora as infecções são quase inteiramente adquiridas de forma sexual, com 72% entre heterossexuais e 23% entre homens gays e bissexuais (HSH).
Em razão da existência de poucos dados específicos sobre o uso da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV junto a HSH chineses, o estudo CROPrEP, apresentado na 11ª Conferência sobre a Ciência do HIV (IAS 2021), promovida pela International Aids Society, em julho, por Junjie Xu, da China Medical University, em Shenyang, trouxe dados interessantes.
De dezembro de 2018 a outubro de 2020, a PrEP foi oferecida a HSH por meio da escolha entre o esquema diário e o esquema 2+1+1 (sob demanda) em quatro cidades chinesas: Pequim, Shenyang, Chongqing e Shenzhen.Os participantes foram recrutados de forma on-line e off-line (clínicas de saúde, bares, clubes, casas de banho, entre outros), com os inscritos sendo incentivados a recrutar amigos.
Os participantes gays ou bissexuais das clínicas que, nos últimos seis meses, tivessem feito sexo anal sem preservativo e/ou com pelo menos dois parceiros e/ou que apresentassem diagnóstico de infecções sexualmente transmissíveis (IST) eram inicialmente questionados se queriam participar do estudo e fazer uso da PrEP. Foram excluídos indivíduos que se revelaram vivendo com HIV, com hepatite B crônica, função renal deficiente ou que apresentassem outros resultados laboratoriais contraindicativos.
Dos 1.023 HSH que iniciaram a PrEP (idade média de 29 anos), 520 escolheram o regime diário e 503 o regime sob demanda – outros 507 optaram por não iniciar a PrEP. No geral, 88% dos usuários da profilaxia e 89% dos não usuários completaram o acompanhamento de 12 meses. A proporção de atos sexuais cobertos pela PrEP aumentou ao longo do tempo entre os usuários do esquema 2+1+1 (de 57% para 78%), enquanto a tendência oposta foi observada no grupo diário (75% para 72%). A incidência geral de HIV foi de 0,64 por 100 pessoas-ano entre usuários de PrEP (0,90 em relação ao esquema diário e 0,37 em relação ao esquema sob demanda – ambos mais baixos do que entre os não usuários da profilaxia: 5,10 por 100 pessoas-ano).
O CROPrEP comprovou que a PrEP pode reduzir o risco de HIV entre HSH na China, com efetividade em torno de 87%. Na IAS 2021, Junjie Xu afirmou que, devido aos resultados conclusivos do estudo, um documento de consenso de especialistas foi emitido pelos pesquisadores e outros especialistas em HIV, visando a orientar umaimplementação mais ampla da PrEP no país.
Vale mencionar, ainda, outro estudo feito durante o pico da pandemia da Covid-19 na China, de 12 de fevereiro a 8 de março de 2020, que apontou que, nesse período, o uso da PrEP diminuiu de 98% para 64% e a prevalência de baixa adesão à profilaxia aumentou de 24% para 50%. Uma investigação posterior descobriu que uma das razões pelas quais os participantes pararam de tomar a PrEP foi por estarem preocupados em usar o medicamento sem ter feito um teste de HIV. O uso de preservativos com parceiros regulares também diminuiu durante esse período.
Fonte: Aids Map, 19 de agosto de 2021