Vacina terapêutica mostra potencial para controle do HIV
Uma vacina terapêutica chamada HTI permitiu que algumas pessoas vivendo com HIV interrompessem o tratamento por pelo menos 22 semanas e mantivessem uma carga viral muito baixa. A informação foi dada por Beatriz Mothe, do Instituto IrisCaixa para Pesquisa da Aids, da Espanha, na Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI 2021), realizada virtualmente de 6 a 10 de março.
As vacinas terapêuticas contra o HIV são projetadas para produzir respostas imunes específicas que podem controlar o vírus após a interrupção do tratamento antirretroviral. Elas estão sendo testadas como parte de estratégias de tratamentos destinados a trazer uma ‘cura funcional’ da infecção, ou seja, a supressão indefinida do HIV sem o uso de antirretrovirais.
O controle do HIV sem terapia antirretroviral é raro, mas os pesquisadores identificaram um grupo de pacientes que foram chamados de ‘controladores de elite’. Essas pessoas controlam o HIV por longos períodos, abaixo dos limites de detecção, sem a necessidade de tratamento.
E o que dá aos ‘controladores de elite’ a capacidade de controlar o HIV? Estudos do sistema imunológico dessas pessoas identificaram as respostas imunológicas das células CD4 e CD8 a regiões do HIV que estão associadas ao controle viral. Mudanças nessas regiões minam a capacidade do vírus de se replicar. Com isso, eles tendem a variar pouco, tornando-se um alvo confiável para respostas de células T induzidas por vacina.
A vacina terapêutica HTI é projetada para estimular as respostas da célula T a essas regiões (epítopos). Após estudos das respostas imunológicas de cerca de 1 mil pessoas com o HIV, 45 pessoas foram selecionadas para participar de um ensaio de segurança.
Na Conferência, Mothe apresentou os resultados do ensaio de segurança AELIX – 002/fase 1 da vacina HTI em pacientes com o vírus. Os participantes do ensaio começaram o tratamento antirretroviral menos de seis meses após a aquisição do HIV, tinham carga viral indetectável por pelo menos um ano e contagem de CD4 acima de 400 por pelo menos seis meses.
No estágio 1 do estudo, os 45 participantes foram randomizados para receber um regime de vacinação de três doses do imunógeno HTI, administrado por um vetor de DNA, nas semanas zero, quatro e oito. Em seguida, foram duas doses em um vetor MVA, nas semanas 12 e 20, ou vacinação com placebo.
Trinta e quatro semanas após a última vacinação no estágio 1, os participantes foram convidados a receber outra vacina, o imunógeno HTI entregue em um vetor de adenovírus de chipanzé modificado. Foram duas doses, com 12 semanas de intervalo.
Por fim, os participantes foram convidados a interromper o tratamento por 24 semanas para avaliar o impacto da vacinação no controle viral. A carga viral e as contagens de CD4 foram monitoradas semanalmente durante a interrupção. Se a carga viral subisse acima de 100 mil a qualquer momento ou acima de 10 mil por oito semanas, o tratamento era reiniciado imediatamente.
Após a vacinação, os participantes do grupo que tomou a vacina mostraram fortes respostas imunológicas no teste ELISPOT aos peptídeos contidos na HTI. Além disso, esse mesmo grupo desenvolveu respostas a uma ampla gama de proteínas do HIV contidas na vacina. Entre os que optaram por interromper o tratamento, a carga viral, embora não tenha retornado aos níveis anteriores, voltou a subir consideravelmente.
Fonte: site do Aidsmap, de 10 de março de 2021.