PrEP: tecnologia de prevenção

PrEP não aumenta a incidência de IST

Por Jacinto Corrêa

Entre especialistas e pesquisadores não há quem duvide que a profilaxia pré-exposição (PrEP) foi uma importante ferramenta de prevenção desenvolvida contra o HIV nos últimos anos. Mas só agora algumas preocupações sobre a profilaxia estão sendo melhor compreendidas, por exemplo, em relação a   infecções sexualmente transmissíveis (IST), como sífilis, gonorreia e clamídia.

A justificativa para essas preocupações é válida e coerente, afinal as pessoas que tomam PrEP têm proteção contra o HIV e, por isso, diversas vezes acabam desenvolvendo comportamentos de maior risco de exposição ao vírus. Com a redução na frequência do uso de preservativo e o aumento no número médio de parceiros sexuais, seria espera do que outras ISTs tivessem uma incidência mais elevada.

Um estudo, realizado por pesquisadores da Universidade de New South Wales, na Austrália, de 2016 a 2018, reuniu 2.404 pessoas que iniciaram o tratamento com a PrEP e realizaram exames periódicos para IST bacterianas analisados desde um ano antes do começo da medicação. Quase todos os participantes eram homens que faziam sexo com outros homens (HSH), cisgêneros, e nenhum deles havia usado a profilaxia anteriormente.

Os resultados mostraram que, antes do início do uso da PrEP, a porcentagem de participantes com exames positivos para sífilis, gonorreia e clamídia era bastante alta (50%) e vinha crescendo cerca de 8% a cada trimestre.

Depois de iniciada a profilaxia e o acompanhamento médico regular, os pesquisadores identificaram a interrupção imediata do crescimento dos casos de gonorreia e clamídia (um aumento de 2%, considerado estatisticamente nulo). Para sífilis, o início da PrEP não teve impacto na tendência registrada anteriormente. Nenhum participante contraiu o HIV.

Outra mudança importante quando comparados os períodos pré e pós-PrEP, foi a frequência de testagens anuais para IST realizadas, subindo de uma média de três para 4,5 por ano. Com mais testes, os casos dessas infecções são rapidamente diagnosticados e curados, interrompendo a transmissão dessas bactérias para mais pessoas.

O estudo concluiu que ainda que a PrEP possa causar algum grau de desinibição nas práticas sexuais, mas isso não ocorre de forma universal entre os usuários.  Engajar a população mais vulnerável às IST em um acompanhamento de prevenção combinada, com testagem periódica e PrEP, é atualmente a melhor alternativa para administrara epidemia de HIV no mundo.

Fonte: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7758809/