2020 Espaço HSH PrEP, HSH e trans

Fatores associados à continuidade inicial da PrEP entre HSH jovens no Brasil, Peru e México: o estudo ImPrEP

A epidemia de HIV na América Latina continua bastante concentrada em populações vulneráveis, como jovens gays/outros homens que fazem sexo com homens (HSH) e população trans. Apesar da expansão dos testes de HIV e do tratamento com antirretrovirais, o número de novas infecções permanece alto. 

Além disso, a implementação da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV na região ainda é muito limitada. Baseado nesse cenário, o estudo “Fatores associados à continuidade inicial da PrEP entre HSH jovens no Brasil, Peru e México: o estudo ImPrEP”, assinado pela equipe do projeto* e apresentado na 23ª Conferência Internacional de Aids (Aids 2020, julho, EUA) por sua pesquisadora principal, Valdiléa Veloso, aborda o tema por intermédio da implementação do ImPrEP, estudo em curso de demonstração acerca da segurança e viabilidade da profilaxia entre HSH e também entre mulheres trans no Brasil, Peru e México. 

Pessoas não portadoras do HIV, acima de 18 anos, com relato de uma ou mais práticas de risco foram inscritas no projeto e iniciaram o uso da PrEP no mesmo dia com medicamentos para um mês de uso. Foram realizados testes de creatinina e de infecções sexualmente transmissíveis (IST), entre outros. O resultado principal para essa análise entre jovens HSH considerou o atendimento às duas primeiras visitas de acompanhamento dentro de 120 dias após o início da profilaxia (early continuation – EC)

Entre os 8.283 inscritos (de fevereiro de 2018 a março de 2020), 2.077 (25,1%) eram jovens HSH: 45,8% do Brasil, 31% do Peru e 23,2% do México. A maioria era de não brancos, com nível médio de escolaridade, apontando a busca pela PrEP como a principal razão de ter acessado o serviço (mais no Brasil e no México do que no Peru).

No geral, o número médio de parceiros sexuais nos últimos três meses era de quatro, com 65% relatando sexo anal sem preservativo. O trabalho sexual foi informado por 16,5% dos participantes. Quase metade dos participantes afirmou ter relações sexuais sem preservativo com indivíduos com status sorológico desconhecido para o HIV. O consumo excessivo de álcool em geral foi bastante frequente.

Entre os indivíduos que iniciaram a PrEP, foi registrado o patamar de 66,8% em termos de early continuation. A taxa de incidência geral de HIV foi de 1,4/100 pessoas/ano. Vale frisar uma diferença importante observada no Peru, quanto à continuidade inicial em PrEP de 44,7% e taxa de incidência de HIV de 3,8/100 pessoas/ano.

Maior chance de descontinuidade foi observada entre não brancos, com menor instrução e peruanos, assim como aqueles que vieram ao local por outros motivos que não a busca pela PrEP. Ter menos de quatro parceiros sexuais nos últimos três meses e realizar trabalho sexual também foram associados à menor chance de early continuation, bem como entre aqueles que desconhecem o status sorológico do parceiro e os que não relatam sexo anal receptivo sem preservativo. Quanto ao uso de substâncias, apenas a cocaína apareceu associada à descontinuidade inicial em PrEP.

O índice de infecções sexualmente transmissíveis se mostrou alta entre os jovens HSH, com maior prevalência de sífilis no Brasil.A prevalência de sífilis ativa inicial, clamídia retal e gonorréia retal foi de 8,4%, 13,9% e 11,0%, respectivamente. 


A pesquisadora concluiu sua apresentação afirmando que o estudo ImPrEP oferece evidências de que a iniciação da PrEP na América Latina no mesmo dia é viável e segura entre os jovens HSH. Foi detectada uma continuidade inicial em PrEP significativamente menor no Peru, que pode ser explicada, em parte, pela maior vulnerabilidade dos participantes inscritos, bem como por menor autorreferência para a profilaxia.

*Autores do trabalho assinado pela equipe de estudos ImPrEP: Valdiléa Veloso (1) , E. Hamid Vega-Ramírez (2), Brenda Hoagland (1), Kelila Konda (3), Sergio Bautista-Arredondo (4), Juan Vicente Guanira (3), Thiago Torres (1), Cristina Pimenta (5), Heleen Vermandere (4), Alessandro Farias (6), Marcus Vinícius Lacerda (7), Marcos Benedetti (1), Steven Diaz (8), Paula Luz (1), Igor Leite (1), Ronaldo Ismério Moreira (1), Julio Moreira (1), Beatriz Grinsztejn (1) e Carlos Cáceres (3).

  1. (1) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz –  Brasil
  2. (2) Instituto Nacional de Psiquiatria Ramon de la Fuente Muñiz, México
  3. (3) Universidade Peruana Cayetano Heredia
  4. (4) Instituto Nacional de Saúde Pública do México
  5. (5) Ministério da Saúde do Brasil
  6. (6) Centro Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa, Bahia, Brasil
  7. (7) Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, Amazonas, Brasil
  8. (8) UNFPA

Para acessar o material apresentado na conferência: https://1395cf30-9035-4b27-b33f-738f50602472.filesusr.com/ugd/f93c93_0a7e3ad0fab64d1cb123650838ca7522.pdf