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Saúde mental e uso de substâncias entre jovens de minorias sexuais e de gênero: achados do estudo ImPrEP CAB Brasil

Aspectos de saúde mental e o uso de substâncias podem afetar a adesão à profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV, aumentando assim a vulnerabilidade à infecção pelo vírus. Estratégias de PrEP de longa duração têm demonstrado alta eficácia e podem ser úteis em contextos marcados por barreiras de adesão, como o estigma e a discriminação nos serviços de saúde.

Estudo conduzido por Carolina Coutinho, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, no Rio de Janeiro, e o Grupo de Estudo ImPrEP CAB Brasil*, descreveu a prevalência da utilização de substâncias, da prática de chemsex (uso de substâncias químicas para fins sexuais), de sintomas depressivos e de ideação suicida entre jovens de minorias sexuais e de gênero no Brasil. O ensaio foi apresentado no 14° Congresso da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), realizado, de 28 de novembro a 3 de dezembro, em Brasília.

O ImPrEP CAB Brasil foi um estudo de implementação da PrEP injetável de longa duração, baseada no cabotegravir (CAB-LA), entre jovens de minorias sexuais e de gênero, de 18 a 30 anos, que buscavam pela profilaxia em serviços públicos de seis cidades brasileiras (Manaus, Salvador, Rio de Janeiro, Florianópolis, São Paulo e Campinas), de outubro de 2023 a setembro de 2024. Nessa análise, os investigadores examinaram os resultados das visitas de inclusão daqueles que iniciaram a profilaxia com injeções de CAB-LA.

Foram incluídos 1.200 jovens de minorias sexuais e de gênero, dos quais 62% tinham de 25 a 30 anos, sendo 91% gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) e 61% pretos/pardos. Mais de três quartos (76%) reportaram a prática de binge drinking (uso excessivo de álcool em um curto período), 28% disseram utilizar pelo menos uma substância e 13% informaram a prática de chemsex nos seis meses anteriores.

No total, 11% apresentaram depressão moderada/severa e 10% registraram risco de suicídio. A depressão foi mais prevalente entre pessoas com menor grau de escolaridade e com mais relatos de uso de substâncias, além de profissionais do sexo. O risco de suicídio foi maior entre jovens de 18 a 20 anos.

Os autores reforçam a necessidade de integração entre os serviços de PrEP e de saúde sexual com cuidados em saúde mental. Ressaltam a importância de se articular estratégias para redução de danos em pessoas que utilizam substâncias, tendo, nesse contexto, a PrEP injetável de longa duração como uma aliada fundamental para promover maior equidade na prevenção do HIV.

*Autores:

Carolina Coutinho (1), Mayara Secco (1), Thiago Torres (1), Brenda Hoagland (1), Davi Coelho (1), Marcos Benedetti (1), Ronaldo Ismério (1), Valdiléa Veloso (1), Beatriz Grinsztejn (1) e Grupo de Estudos ImPrEP CAB Brasil

(1) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.