Confira os destaques da live Ecos da IAS 2025, do ImPrEP CAB Brasil
Para apresentar os principais destaques da 13ª Conferência da Internacional AIDS Society (IAS 2025), realizada de 13 a 17 de julho, na cidade de Kigali, em Ruanda, o ImPrEP CAB Brasil promoveu, no dia 26 de agosto de 2025, a live “Ecos da IAS 2025”.
O encontro virtual, que pode ser visto na página institucional do projeto no YouTube (https://www.youtube.com/@projetoimprepini-fiocruz6657) ou no site www.imprep.org, contou com as participações de Arthur Kalichman, coordenador-geral do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis, do Ministério da Saúde; Matheus Bastos, médico infectologista e pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz-RJ; e Thiago Jerohan, membro da Articulação de Luta contra a Aids e assessor de projeto do Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero. A mediação ficou a cargo de Luciana Kamel e Júlio Moreira e Luciana Kamel, responsáveis pela educação comunitária do projeto.
Após Júlio e Luciana discorrerem sobre a importância de conferências como a IAS 2025 para a comunidade científica, Matheus iniciou a reunião lamentando o atual corte de financiamento, destinado ao combate do HIV, promovido pelo governo dos Estados Unidos. Afirmou que essa decisão pode impactar negativamente as estatísticas referentes ao vírus, especialmente na região da África Subsaariana e na América Latina. “Entidades, como a Organização Mundial de Saúde (OMS), calculam que cerca três milhões de mortes adicionais poderão acontecer em todo o mundo, até 2030, em virtude desse contingenciamento”, afirmou o pesquisador.
Mas, de acordo com Matheus, a IAS 2025 também trouxe boas novas relacionadas à prevenção do HIV. “Além do lançamento das diretrizes da OMS para a PrEP injetável semestral, baseada no lenacapavir (LEN), recebemos atualizações importantes sobre um ensaio clínico promissor que investiga a eficácia da PrEP oral mensal”. O pesquisador encerrou a sua fala classificando a apresentação dos resultados do estudo ImPrEP CAB Brasil como uma das melhores notícias da conferência.
Prevenção, inovações, patentes
Em seguida, Thiago pediu a palavra. “É impossível falar apenas de prevenção quando atravessamos uma grave crise global de financiamento. Cada vez que um governo extremista assume o poder, nós, da sociedade civil, somos os primeiros a sentir os efeitos negativos de suas ações”. Ele lamentou que as pesquisas apresentadas na IAS 2025 tenham se concentrado quase que exclusivamente na prevenção, deixando temas importantes, como inovações para o tratamento do HIV, em segundo plano.
Embora a IAS seja uma conferência científica, o tema central do evento acabou sendo o corte de financiamento do governo norte-americano. Arthur foi mais um a opinar sobre o assunto: “Felizmente, o Brasil será menos impactado por causa de seu sistema da saúde pública, que é reconhecido como um dos melhores do mundo”. As diferentes modalidades de PrEP também foram lembradas pelo coordenador: “Novas tecnologias, como a PrEP injetável de longa duração, são muito bem-vindas, mas não podemos cair no erro de desprezar a PrEP oral, que vem reduzindo o número de novas infecções pelo HIV aqui no Brasil e em várias regiões do planeta”.
Segundo Arthur, os custos elevados do CAB-LA e do LEN são, hoje, a principal barreira para a incorporação dessas estratégias de prevenção ao SUS. “A quebra de patentes, muito debatida na conferência, seria importante para reduzir o preço e popularizar esses medicamentos”. Ele ressalta que enquanto isso não acontece será fundamental a criação de parcerias entre governos e diferentes atores da sociedade civil para a difusão não só da PrEP oral, como também das demais ferramentas de prevenção combinada, sobretudo entre as populações mais vulneráveis ao HIV.
Sociedade civil
Após uma breve intervenção de Júlio defendendo a importância desse tipo de parceria, Thiago emendou: “Um dos pontos altos da IAS 2025 foram as várias manifestações de entidades da sociedade civil de todo o mundo, inclusive na cerimônia de abertura. Precisamos nos articular cada vez mais para depender cada vez menos do poder público. Nosso ativismo é uma arma importante na luta contra o HIV e, principalmente, na resistência a governos autoritários e negacionistas”.
A palavra voltou ao coordenador-geral do Ministério da Saúde: “Acho que os governos devem financiar os movimentos sociais. Fortalecer a sociedade civil e o trabalho dos educadores de pares já se mostrou uma política de saúde pública de grande eficiência”. Outra preocupação de Arthur foi com a popularização da PrEP entre os mais pobres. “Precisamos que a profilaxia não fique restrita apenas às áreas nobres das cidades brasileiras. Temos que levá-la também às periferias”.
Após os agradecimentos finais, coube a Matheus encerrar a live com uma fala contundente. “É importante lembrar que o debate sobre a prevenção do HIV é, antes de tudo, um debate civilizatório. Lutar contra o HIV é lutar contra a pobreza e a desigualdade social. Enquanto existir uma única pessoa sem acesso à prevenção, seremos incansáveis. Não existe uma sociedade justa sem que o direito à saúde seja universal”.