A prevenção do HIV continua sendo uma prioridade global, e a profilaxia pré-exposição (PrEP) representa um avanço importante nesse cenário. No entanto, o acesso equitativo ainda é um desafio, especialmente para minorias sexuais e de gênero na América Latina. A participação comunitária, histórica na resposta ao HIV, tem sido um alicerce essencial na construção de respostas mais eficazes e inclusivas.

Análise conduzida por Luciana Kamel, do Instituto Nacional de Infectologia Evadro Chagas, da Fiocruz, e outros autores*, buscou descrever a estruturação do componente comunitário no estudo ImPrEP CAB Brasil, voltado à implementação da PrEP de longa duração, tendo sido apresentada em forma de pôster no 11º Congresso Brasileiro de Aids  / 15º Congresso da Sociedade Brasileira de DST / 6º Congresso Latino-Americano de IST/HIV/Aids, realizados de 3 a 6 de junho de 2025, no Rio de Janeiro.

O ImPrEP CAB Brasil é um estudo de implementação da oferta no mesmo dia da PrEP com cabotegravir injetável de longa duração (CAB-LA) para jovens gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), pessoas transgênero e não-bináries, de 18 a 30 anos, por meio de seis serviços públicos de PrEP oral no Brasil, localizados no Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Salvador, Campinas e Manaus.

Para construir um marco nacional comum sobre engajamento comunitário, foi utilizado o manual de boas práticas participativas (UNAIDS/AVAC, 2011) para o envolvimento efetivo com as partes interessadas. Cada um dos seis centros de estudo conta com dois educadores de pares das comunidades de HSH e pessoas trans, que também colaboraram na identificação de membros da comunidade para integrar o Comitê Comunitário Assessor do estudo.

Cada centro desenvolveu um plano de trabalho comunitário para alcançar os objetivos de disseminar informações essenciais e combater desconfianças, mitos e estigmas relacionados ao HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis; promover ambientes acolhedores e seguros nos serviços; e sensibilizar profissionais de saúde para melhor atender às necessidades sociais e de saúde das populações em maior vulnerabilidade ao HIV/aids.

Entre os resultados alcançados, é importante ressaltar que as partes interessadas tiveram papel central na construção de estratégias para ampliar o conhecimento sobre a prevenção do HIV, incluindo o uso da PrEP com CAB-LA. Além disso, em 22 meses, foram realizadas diversas intervenções em espaços LGBTQIA+, com destaque para ações em bares, festas e paradas (34,8%) e rodas de conversa (16%), sendo o Instagram a principal mídia de comunicação do projeto (43%). A equipe também colaborou na elaboração dos materiais do estudo e promoveu reuniões com organizações não-governamentais e organizações de base comunitária para fortalecer parcerias comunitárias. Grupos de discussão com profissionais de saúde e comunidades LGBTQIA+ contribuíram para a criação de conteúdos mais inclusivos e culturalmente sensíveis.

Como principal conclusão, os autores do trabalho apontam que o engajamento comunitário em projetos de implementação da PrEP tem proporcionado aprendizados valiosos sobre a construção de alianças consistentes e sensíveis aos contextos locais que fortaleçam o letramento em saúde, a prevenção combinada e o enfrentamento do estigma relacionado ao HIV.

*Autores:

Luciana Kamel (1),  Keila Simpson (1), Júlio Moreira (1), Toni Araújo (1), Laylla Monteiro (1), Gabriel Mota (2), Oliê Cárdenas (3), Matheus De Luca (3), Paola Alves (4), Vinícius Francisco (4), Ranna Danielle (5), Uilian  Ferreira (5), Erika Faustino (6), Marcelo Siqueira (6), Brenda Hoagland (1),  Beatriz Grinsztejn (1), Valdiléa Veloso (1) e Cristina Pimenta (1).

(1)Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil

(2)Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado, Manaus, Brasil

(3)Centro de Testagem Anônima – Policlínica Centro, Florianópolis, Brasil

(4)Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids, São Paulo, Brasil

(5)Centro Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa, Salvador, Brasil

(6)Centro de Referência Municipal em IST/HIV/Aids, Campinas, Brasil