DoxyPEP como ferramenta na prevenção de IST
O cenário atual é extremamente desafiador no que concerne à prevenção e ao tratamento de infecções sexualmente transmissíveis (IST). Em diversos locais do mundo, sífilis, mpox e gonorreia têm alcançado altas taxas de incidência. Além disso, um número significativo de casos de gonorreia tem apresentado resistência a medicamentos, dificultando a resposta a tratamentos e controle de novas infecções. Esses fatos reforçam a necessidade de ferramentas mais eficazes de prevenção e controle das IST.
Um texto publicado na edição de janeiro de 2025 do periódico JAMA Internal Medicine discute a viabilidade da profilaxia pós-exposição com doxiciclina (DoxyPEP), que consiste em uma dose única em comprimido a ser ingerido em até 72 horas após relações sexuais desprotegidas, como resposta efetiva ao cenário atual de IST.
Assinado por Jeanne M. Marrazzo, do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, e Jodie Dionne, da Universidade do Alabama, ambos dos Estados Unidos*, o texto parte de dois artigos publicados no mesmo número do periódico com estudos conduzidos na Califórnia.
Um deles, de autoria de Sankaran et al, foi realizado em São Francisco com gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens, travestis e mulheres transgênero. Entre os resultados, a redução de aproximadamente 50% nos casos de sífilis e clamídia após a implementação do DoxyPEP. No entanto, a gonorreia não seguiu a mesma tendência, registrando crescimento de 26%.
A outra análise, de Traeger et al, foi realizada no norte da Califórnia com pessoas que recebiam a profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV em um centro de estudos. Neste caso, houve reduções significativas nas IST, com 79% de clamídia, 80% de sífilis; já a gonorreia, apesar de não ter aumentado como no outro estudo, apresentou redução de apenas 12%.
As autoras não deixaram de pontuar limitações nos estudos e desafios impostos por seus resultados. Por exemplo, não foram incluídos dados significativos sobre mulheres cisgênero e populações mais diversas. Os resultados apontaram, ainda, para uso desigual entre aqueles que receberam os comprimidos da DoxyPEP, com uma adesão menor entre pessoas negras. Também pontuam que a possibilidade de aumento da resistência das bactérias aos tratamentos, especialmente da gonorreia, é um fato digno de atenção.
Ainda assim, as articulistas consideraram os resultados promissores para a adoção da DoxyPEP como alternativa de prevenção de IST. Ressaltam, no entanto, que sua implementação requer um monitoramento contínuo quanto à resistência antimicrobiana e estratégias que promovam equidade no acesso.
Link para o resumo: https://jamanetwork.com/journals/jamainternalmedicine/article-abstract/2829000.
* Jeanne M. Marrazzo (1), Jodie Dionne (2)
(1) Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, Bethesda, Estados Unidos
(2) Universidade de Alabama, Birmingham, Estados Unidos.